segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Duas noites de amor



Ao ar livre, a música parecia envolver todo o seu corpo. Era como se dissipasse no espaço e não existissem limites… Olhou em frente. Ele ainda ali estava, a poucos metros, praticamente sem se mexer, a contemplá-la no meio do fumo e das luzes intermitentes. “Não vou ter com ele”, pensou, triste, repetindo as palavras como se se tratassem de um mantra. Mas o corpo amolecia ao sentir o olhar dele preso à sua pele. “Se cederes ao teu desejo, esta história nunca vai terminar…” Porém, ele estava tão perto, com os olhos verdes esmeraldas rasgados, a boca que formava o mais inebriante dos sorrisos, o corpo elegante e sensual. E Paula sabia, com cada célula, que ele a desejava com intensidade.


Fechou os olhos, tentando dessa forma abstrair-se da realidade. Recordou a primeira noite. Esbarrara com ele naquele mesmo local. Ele segurara-a com os braços musculados, impedindo-a de cair no chão. Trémula, Paula agradecera-lhe, sentindo, ao contacto com as mãos, um formigueiro a percorrer-lhe a pele. Os lábios de Martim abriram-se num sorriso, os olhos verdes brilharam e perguntou-lhe o nome, com uma voz ligeiramente rouca. Como que hipnotizada, Paula respondeu. O que aconteceu depois, foi surpreendente. 

Dançaram toda a noite, os corpos crescentemente mais próximos, as pernas a tocarem-se, as mãos dele na sua cintura, descendo depois com volúpia pelas coxas bem delineadas, o cheiro que se libertava do seu cabelo a inebriá-la. Nunca se tinha entregado assim a um homem logo da primeira vez que o conhecera, nem sentido frisson quando ele, enlaçando-lhe a cintura com firmeza, começou por beijar-lhe o pescoço, as orelhas, as faces, o canto dos lábios, para, por fim, tocar a sua boca, envolvendo-a num beijo intenso, profundo, que lhe roubou o folego. Saíram dali para o apartamento dela, onde Martim, deitando-se sobre a cama, lhe pediu: “despe-te para mim”. De início, a natural inibição de Paula veio ao de cima, mas ele repetiu o rogo com tanta emoção e desejo expresso no rosto moreno, que, pensando “por que não”, Paula deu por si a mover as ancas com sensualidade, sentindo-se uma figura das Mil e uma noites. Primeiro a camisola de alças caiu no chão, depois, a saia curta. 

Por fim, virando-se de costas, despiu o soutien. Virou-se, tapando os seios com as mãos. Ele observava-a com os olhos brilhantes e um sorriso rendido. “Deixa-me vê-las.” Devagar, Paula deixou expostos os seios rosados. Todavia Martim não estava satisfeito. Sob as calças, Paula deu conta do pénis já ardendo de desejo. Mas antes pediu-lhe para tirar o string. Só a seguir se ergueu da cama, se aproximou e a começou a beijar, pedaço a pedaço. Paula estava também mergulhada na vertigem louca da volúpia. Despiu-o com avidez, cobiçando tocar, cheirar, beijar aquele corpo… O desejo era de tal forma ardente que ele a penetrou de pé, contra a parede, suspendendo-a no ar com as nádegas nas suas mãos. O orgasmo foi rápido, intenso e avassalador, uma subida apoteótica aos céus, uma chuva de estrelas que se abateu naquele quarto. Amaram-se toda a noite, até que adormeceram esgotados.

Na manhã seguinte, ao acordar, Martim não estava lá. Apenas uma rosa vermelha que ele devia ter roubado no canteiro da vizinha. Dividida entre a desilusão e a raiva. Paula tentou retomar o rumo normal dos dias depois daquela noite. Mas, no sábado seguinte, na esperança de reencontrá-lo, regressou à mesma discoteca, junto ao mar. Procurou-o com os olhos, porém foi ele que lhe surgiu à frente, de surpresa, arrastando-a para um lugar mais sossegado, Nos olhos dele, o mesmo brilho. As palavras, breves, foram murmuradas: “Senti a tua falta”. Depois um beijo, muitos beijos, e mais uma noite de amor.

Após de terem saciado o desejo nos braços um do outro, Paula perguntou-lhe: “Vais desaparecer novamente?” Martim ficou pensativo. “Há uma coisa que tens de compreender se me queres voltar a ver – não me podes tentar prender.” Paula pensou ripostar com fúria, mas consegui perguntar calmamente: “Não estás apaixonado por mim, é isso?” Nesse instante, ele olhou-a com carinho e puxou-a para junto do peito nu: “Não percebeste, pois não? Isto não tem nada a ver com aquilo que sinto. É uma questão da minha maneira de ser.” Paula não compreendia. Tinha a certeza que estava apaixonada, apesar de quase nada saber a seu respeito. Desejou esquecer, disse a si própria que devia mandá-lo embora, mas deixou-se ficar, segura nos seus braços até que o sono a venceu. E ele não estava lá de manhã, apenas mais um rosa vermelha.

A semana seguinte passou como se estivesse sonâmbula. Desejava vê-lo e prometia a si mesmo não regressar ao mesmo lugar. Os amigos diziam que ela era louca, que se tratava de mais um Juan de bolso, que andava por aí a seduzir raparigas na noite. “Não sabes nada dele”, repetiam. Ela ainda pensava responder que sabia que ele adorava passear descalço pela praia em noites de luar, que gostava de ver a forma como a luz se refletia no seu rosto, que amava o som do jazz… Confidências de duas noites de amor que valiam mais do que dez anos de conversas. Mas voltou. Encontrou-o sozinho, junto ao mar, afastado da confusão. Dirigiu-se até lá com passo seguro. Ele adivinhou a sua presença, dizendo, ainda de costas: “Pensava que nunca mais chegavas…” Porém, Paula tinha tomado uma decisão: “O que aconteceu entre nós não se vai repetir. É só isso que te queria dizer.” E, com lágrimas nos olhos, regressou para a pista, onde a música a envolveu. 

Agora, estava ali, sentindo-se observada fixamente por ele, que porém não vinha ao seu encontro. Com medo de ceder, despediu-se dos amigos e correu porta fora. Aquele sonho (ou pesadelo) terminara. Mas quem dizia que o conseguia esquecer? A imagem de Martim colara-se de tal forma às paredes do seu cérebro, que dois dias passaram em que não conseguiu dormir… Pensou ir ter com ele no próximo fim-de-semana, era preferível estar infeliz com Martim do que sem ele. Contudo, não foi necessário voltar. Porque, ao final do terceiro dia, ele esperava-a, sentado nos degraus da porta, um ramo de rosas na mão. Sorriu-lhe ao longe e, quando Paula se aproximou, lançou-lhe o mais radiante do sorriso, “Será que podemos começar do novo?”, perguntou, quase junto à sua orelha. “Sem fugas de madrugada?”, retorquiu Paula. “Prometo”, disse, antes de envolvê-la num beijo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Despertar do engano

”Anda cá e despe-me.” Foi com estas palavras que Anabela o esperou. Tinha vestido um vestido comprido, de cetim, com alças finas, que se moldava ao corpo a cada movimento. Pedro sentiu-se dividido – viera dizer-lhe que estava tudo acabado, mas ela mostrava-se novamente como uma pantera. Como se adivinhasse o que se passava, usava as suas armas mais poderosas – o corpo, felino, para o levar a adiar uma decisão. Desta vez seria forte.

Mas ela aproximou-se e colou-se a ele, os seios duros contra o seu peito, e logo a mão pousou entre as suas pernas com movimentos sensuais. Ela baixou-se, tirou-lhe o cinto, ignorando o pedido para que esperasse, por que tinham de conversar. Levantou a cabeça e sorriu-lhe, antes de abrir o fecho e segurar entre os dedos o pénis que transportou até aos lábios vermelhos e começou a sugar. Uma vertigem envolveu-o quando sentiu que o orgasmo se aproximava…

A seguir, segurando-o pela mão, levou-o para o quarto, prendeu-lhe as mãos à cama e, levantando o vestido, sentou-se em cima dele. O pénis (porque tinha de ser tão desobediente aos desígnios do seu cérebro), estava de novo erecto e entrou dentro dela. Anabela, com movimentos voluptuosos, conduziu-os, mais uma vez, a um orgasmo podero. No final, Pedro tinha perdido a coragem. Apesar de, por vezes desconfiar que Anabela fazia aquilo de propósito, ela mostrava-se sempre tão apaixonada quando faziam amor… E mais uma vez passou a noite em casa dela, prisioneiro do desejo que parecia ser capaz de o conduzir à escravidão.

No dia seguinte, quando entrou no escritório, ligou a Sara. “Vamos almoçar?”, perguntou. A jovem aceitou o convite e o coração dele batia mais depressa.

Chegou mais cedo ao restaurante e bebeu um martini enquanto aguardava. Por que insistia em manter a esperança? Ele namorava com Anabela e Sara era sua amiga. Tinha-as conhecido quase ao mesmo tempo, numa festa. Mas enquanto Anabela sobressaíra pela sua beleza, Sara era mais tímida, quase envergonhada de existir. A primeira seduzira-a em cinco minutos, mas o início dessa relação marcou também o princípio de uma amizade crescente com Sara. Aos poucos, nos momentos em que estavam juntos, aprendera a gostar de se escapulir uns minutos para junto dela, principalmente nas festas barulhentas que Anabela tinha a mania de organizar, com dezenas de pessoas desconhecidas e música ensurdecedora. Nesses instantes, falavam e descobriam um monte de afinidades, que os tornavam cada vez mais cúmplices. Sem se aperceber de início, e há medida que a futilidade e o materialismo de Anabela se tornavam mais óbvios, Pedro ia-a usando como ponto de comparação. E Sara, a doce e sensível Sara, com as suas feições angelicais, saía sempre a ganhar.

Tinham ganho o hábito de almoçar juntos duas vezes por semana. De início, falava de Anabela e Sara era solícita nas tentativas de ajudar a resolver o crescente afastamento do casal. Depois, esse tópico foi deixando de fazer parte da conversa, que versava sobre eles, os seus sonhos, ambições e tristezas. Anabela costumava gozar com esses almoços: “Devem dizer mal de mim o tempo tudo”, dizia, só para chamar a atenção sobre si própria, apesar de, no fundo, ter uma opinião tão boa sobre si mesma que tal ideia era inconcebível. Nem sequer se dava ao trabalho de mostrar ciúmes – homem que a tivesse a ela não podia desejar mais ninguém…

Nesse dia, Pedro estava decidido a contar a verdade a Sara – que queria terminar tudo com Anabela. O resto– que estava apaixonado por ela – dir-lhe-ia mais tarde. Não seria o momento certo.

Sara chegou, mas desde logo Pedro compreendeu que algo mudara. Não parecia à vontade, como se algo a perturbasse. Antes de tentar perceber o que se passava, desabafou – “Vou terminar a relação com a Anabela”. Sara empalideceu. “Mas como? Ela vai ficar destroçada…” , disse. “Sabes que não temos nada em comum e que há muito que não me sinto feliz. Chegou o momento. Se ao menos ela facilitasse…” E contou-lhe como, na noite anterior, chegara decidido e ela conseguira, mais uma vez, adiar o momento. Sara pareceu irritada – “Se quisesses realmente fazê-lo, não ias nos seus jogos de sedução.” De seguida, fez um esforço para acalmar-se.Também tinha algo a dizer, confessou. “Temos de acabar com estes almoços. De facto, acho que devemos estar um tempo sem nos vermos. Não faças perguntas. Mais tarde, talvez te possa explicar.” Com os olhos molhados, levantou-se da mesa. Mas antes, Pedro segurou-lhe na mão. Sentiu que todo o corpo de Sara estremecia com aquele contacto. Puxou-a de novo para a mesa. “Quanto mais tempo vamos fingir um ao outro que nada aconteceu nestes últimos meses?” , perguntou. Viu Sara empalidecer e ficar ainda mais nervosa. Desta vez, não conseguiu conter as lágrimas. “Tinha tantas esperanças que fosse apenas eu… Seria mais fácil.”, confessou. “Eu sinto o mesmo que tu e não podemos fingir que isso não é real. Vou acabar com a Anabela mas é para ficar contigo.”

Olharam-se demoradamente. Estava tudo dito. Sara tinha a cabeça baixa e as lágrimas corriam. “Nunca me vou perdoar. É como se fosse traição. Ela é minha amiga.”, desabafou. Pedro sentia-se demasiado seguro do que sentia para deixar que o momento se perdesse: “Nem tu nem eu tivemos culpa. A Anabela vai ter de compreender isso. Vamos embora daqui.”

Beijaram-se pela primeira vez num miradouro com vista para o rio. O sol brilhava num céu onde brincavam algumas nuvens. Nunca Pedro esqueceria aquele beijo, a doçura e a paixão contidos nos lábios de Sara. Levou-a para sua casa, onde a despiu devagar, beijando-lhe tudo o corpo, de uma beleza quase éterea. Fizeram amor abraçados, sentido os corações a bater em uníssomo, a pele suada, o ritmo do prazer de cada um.

Há noite, Pedro tomou um banho e vestiu-se. Beijou Sara demoradamente. Dirigiu-se a casa de Anabela, que o esperava. Desta vez, a porta estava entreaberta. Chamou-a e ela respondeu do quarto. “Veste-te. Temos de conversar.” Anabela ainda lutou. Saiu dos lençóis, onde o esperava, e mostrou o corpo nu, voluptuoso. Mas, desta vez, nada tremeu dentro de Pedro. O rosto fechado fê-la hesitar. Envolveu-se num roupão. Escutou o que ele tinha para lhe dizer. Depois, com desprezo, limitou-se a dizer que ele tinha feito a pior opção da sua vida. Quem possuira alguma vez uma mulher com ela nunca mais encontraria ninguém que o satisfizesse. Pedro limitou-se a sorriur e encolher os ombros. “Como estás enganada”, disse, antes de bater com a porta da rua pela última vez.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Virgindade perdida



Isabel passeava pelas ruas, contemplando as montras e observando melancolicamente a sua imagem refletida nos vidros. Não era uma mulher que desse nas vistas, sabia-o bem. Os óculos de massa escura ocultavam os olhos de um azul água, o cabelo estava apanhado sem grande jeito, uma forma de domar os caracóis rebeldes, e as roupas largas disfarçavam as formas do seu corpo.

"Não és propriamente a Kate Moss", pensou, enquanto, com um suspiro, empurrava a porta da agência de publicidade onde trabalhava. 

Interiormente, acreditava que era um caso completamente perdido. Consolava-se ao conjeturar que não devia ser a única virgem de trinta anos no Planeta Terra. Deviam existir pelo menos mais duas como ela.
No exato minuto em que se sentou à secretária, a colega do lado perguntou em voz baixa: "Já viste o rapaz que entrou hoje?"

Isabel, com uma expressão de indiferença, retorquiu: "Não podes ver um homem!"

E prometeu a si própria mostrar-se imune à mais recente contratação da agência. Detestava a figura de parva que algumas mulheres faziam quando encontravam um homem atraente e recusava-se a juntar-se a esse número.

Nesse momento, uma voz grave fez-se ouvir atrás de si: "Será que me podes ajudar? Estou aqui desesperado à procura da máquina de café…"

Isabel ergueu os olhos azuis que pousaram num rosto moreno e atraente, emoldurado por um cabelo negro e ondulado. "Peço desculpa pela minha urgência, mas sou completamente viciado em café. Ainda nem sequer me apresentei. Sou o Vasco e tu..." "Chamo-me Isabel e a máquina de café é no fundo do corredor à esquerda", respondeu ligeiramente embaraçada. É que ele era mesmo atraente. E para ficar ainda mais embaraçada, Vasco disse-lhe: "Já tomaste café? Posso oferecer-te um? Afinal, é o meu primeiro dia aqui e não conheço ninguém?"

Espantada pela gentileza, Isabel aceitou acanhadamente e caminhou a seu lado até junto da máquina, sentindo-se observada por todas as colegas. Mas a conversa entre ambos acabou por fluir naturalmente, à medida que ele colocava questões sobre o funcionamento da agência. Por fim, regressaram aos seus lugares e Isabel descobriu que a secretária de Vasco ficava exatamente à frente, pelo que era impossível evitar contemplar o rosto atraente e o corpo elegante do colega.

A primeira semana passou, algumas palavras foram trocadas entre ambos e, por diversas vezes, a jovem apercebia-se do olhar de Vasco pousado em si. Até que, um dia, quando se preparava para sair, ele se aproximou e, discretamente, inquiriu: "Haveria possibilidade de aceitares jantar comigo?".

O espanto não permitiu que Isabel refletisse na resposta, porque, nesse instante, um "sim" soltou-se da boca.




Vasco levou-a a um restaurante agradável e dirigiu a conversa com bom humor e inteligência. Aos poucos, a atenção do colega e o efeito libidinoso do vinho exerceram o seu efeito. Isabel deixou de se achar feia e desinteressante e entregou-se ao prazer de estar ali, com um homem atraente e sedutor que simpatizava com ela.

No final da refeição, Vasco pegou-lhe na mão, dizendo: "Sabes que és uma mulher muito atraente? Se não escondesses os olhos por detrás dessas lentes, se soltasses o cabelo e te atravesses a usar outras roupas, todos olhavam para ti!".

Ela corou e remeteu-se a um silêncio acanhado, até que Vasco a arrastou para a rua, a puxou para si e a beijou com firmeza, não a deixando fugir, mesmo que ela tivesse tentado durante alguns segundos. Por fim entregou-se e durante alguns minutos, beijaram-se como se estivessem sozinhos no centro da grande cidade.

Por fim, com um sorriso terno, Vasco disse que a ia levar a casa. Todo o percurso conduziu em silêncio, dando espaço aos pensamentos da companheira. Mas, quando chegaram ao destino, a jovem ganhou coragem para obedecer ao seu desejo: "Queres subir e beber um café?"

‘Claro que sim’, responde com um sorriso. O coração de Isabel bateu mais depressa.

 Já na sala do seu pequeno apartamento, Vasco tentou novamente beijá-la mas Isabel afastou-o, levantando-se de um salto do sofá e dizendo com a voz a fugir: "Vou preparar qualquer coisa para bebermos". Era apenas a maneira de disfarçar o tremor que invadia o seu corpo e de arranjar tempo para interiorizar que estava em sua casa, com um homem e que ele a desejava como mulher. E agora? Tudo dependia de si. Estaria preparada para se entregar?

 Se durante tantos anos erguera um  muro à sua volta e não deixara ninguém aproximar-se. E quanto mais os anos passavam, mais complicado era libertar-se das suas inseguranças e da vergonha de nunca ter tido sexo na vida.

Voltou à sala com dois copos de vinho na mão e sentou-se no tapete, rodeada de almofadas, junto à lareira onde Vasco ateara um agradável fogo. "Sentes-te bem?", perguntou o rapaz, ao observar o rosto pálido de Isabel.

Nesse instante, ela tirou os óculos e, sem pensar, os seus lábios procuraram os dele com toda a sofreguidão que tinha encerrado dentro de si. Depois, despiu-lhe a camisa e, com a língua, explorou cada centímetro daqueles músculos definidos como uma escultura de bronze. Subjugado pelo desejo, Vasco soltou-lhe o cabelo, que caiu em cachos sobre os seus dedos, arrancou-lhe a camisola, desapertou-lhe o soutien e uns seios redondos expuseram-se inteiros perante si. "És perfeita" exclamou, enquanto, com a boca, desbravava sequiosamente os mamilos rosados como botões de rosa.

O corpo de Isabel tremeu em contacto com a língua quente de Vasco e deixou-se simplesmente arrastar pela magia do momento. Ele reclinou-a no tapete, despiu-a completamente e contemplou aquela pele de marfim, o recorte perfeito das ancas, a linha definida da cintura e a leve pelugem loira oculta entre as pernas. Incapaz de resistir a semelhante imagem, a sua língua vagueou perdido pelos recantos mais escondidos daquele corpo, até que se deitou sobre ela.

"Estás a tremer. O que se passa?", perguntou. Isabel limitou-se a rodear com os braços o tronco de Vasco e com as pernas envolveu a sua cintura. "Nada", disse, sentindo o pénis ereto roçar-lhe o clítoris, pronto para mergulhar inteiro e sedento dentro de si. Sentindo que a vagina de Isabel se oferecia húmida ao seu membro, Pedro entrou dentro dela, mexendo-se com perícia, demorando tempo a acariciar com os lábios as ondas suaves do pescoo e sugando com prazer aqueles seios cheios que se elevavam como duas colinas na sua direção. Com uma das mãos, passeava pelas nádegas e pelas coxas da parceira. "Quero-te dar muito prazer", sussurrou-lhe ao ouvido, à medida que os gemidos de Isabel subiam de tom, até que sentia que aquela vagina se contraia nos espasmos doces de um orgasmo. O seu pénis n‹o conseguiu resistir ao grito de volúpia que se soltava da parceira e Vasco entregou-se com ela nas ondas de um prazer sem limites.

Só depois de alguns momentos, Vasco se apercebeu que umas gotas de sangue manchavam os lençóis. "Foi a tua primeira vez". Com um sorriso, Isabel acenou que sim: "Foi. E quero mais". Com os líbios, comeou a acariciar-lhe o tronco, até que a boca alcançou o pénis que, de imediato, enrijeceu. Colocando o pénis na sua boca quente, deixou que a língua realizasse pequenas acrobacias em seu redor. Quando Vasco estava prestes a atingir o orgasmo, sentou-se em cima dele. Ele colocou as palmas das m‹os nas nádegas da parceira, pressionando-as com fora, enquanto Isabel se movia sobre ele. Até que, novamente, um orgasmo os arremessou. Por fim, o casal de amantes acabou por adormecer e s— despertou com os primeiros raios de sol.

Entre risos e brincadeiras, vestiram-se e saíram para o trabalho. Entraram discretamente, com alguns minutos de intervalo, sentaram-se na secretária e o dia correu igual a todos os outros. Mas a noite, essa, só a eles pertencia.




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sedução ao limite


É complicado descrever o que me atraiu nela ao primeiro olhar, no exato segundo em que a terra imobilizou o seu curso e o meu coração parou de bater, paralisado por uma força maior que a gravidade. Não foi o corpo magro que envergava com descontração os últimos trapos da moda, ditados por uma qualquer revista de nome francês. Nem os olhos de Sara, castanhos, de uma tonalidade tão escura que quase nada se refletia neles, assemelhando-se a dois lagos das profundezas da terra. Os cabelos eram curtos e as feições como as de uma boneca de porcelana, frágil, enigmática e distante. Como um anjo...



Começámos a namorar no primeiro ano da faculdade. Ao final de uma semana de a ter conhecido, beijei em estado de êxtase uns lábios pequenos e perfeitos como botões de rosa e descobri-me completamente apaixonado. Depois de alguns passeios, pousei com medo a mão sobre o bem desenhado seio, que coube inteiro na palma da minha m‹o, e senti que o meu corpo vibrava inebriado pela suavidade perfeita que adivinhava por debaixo daquelas roupas. Entre livros, tardes na esplanada e entardeceres junto ao Mondego, fui-lhe falando de sonhos e projetos e de como me sentia unido a ela por laços que ultrapassavam o tempo e a distancia. Sara abria os olhos enormes e dizia que nós éramos como as gaivotas, que nunca voam sozinhas. Entre beijos ardentes, levei-a ao colo para o meu quarto e durante dois dias esquecemo-nos do mundo. Com paixão, amámo-nos de todas as maneiras, festejando com carícias ardentes a virgindade que ambos entregávamos ao corpo um do outro. E não passou muito tempo sem eu fazer as malas e estar com ela a partilhar o apartamento com mais dois colegas.

E assim passou um ano, em que a voz de Sara era a primeira que ouvia
todas as manhãs e o seu rosto o último que beijava antes de adormecer. Até que Elsa irrompeu nas nossas vidas por uma daquelas infelizes jogadas do destino: um dos amigos com quem partilhávamos a casa, terminou o curso e rumou a Lisboa. Restava-nos um quarto vago e uma renda elevada para pagar. Sara lembrou-se de uma colega nova que era de longe e estava a procura de casa. No dia seguinte, quando cheguei, Elsa e Sara estavam a conversar tranquilamente. Quando a recém chegada levantou os olhos para mim, senti um arrepio de mau presságio. Era terrivelmente atraente.

Sara apresentou-me com um sorriso tranquilo - "é o Guilherme, o meu namorado". Mas depois das apresentações, abandonei a sala, sentindo-me perturbado. Todo o seu corpo enviava uma mensagem com quatro letras: sexo. Elsa mudou lá para casa, com a sua longa cabeleira loira, um metro e oitenta de poses estudadas, de quem sabe o efeito que provoca ao entrar numa divisão repleta de homens. Mas era a mim que ela queria.

Ao final do segundo dia, levantei-me de noite e fui à cozinha para beber um copo de água. No silêncio da casa, os passos de Elsa foram tão imperfectíveis que, quando me apercebi, ela já estava junto a mim, vestindo uma t-shirt curta, que permitia divisar o recorte perfeito dos mamilos. Debruçada sobre o meu rosto, retirou-me o copo das mãos e encostou os lábios cheios ao vidro, sem que aqueles olhos cintilantes se retirassem um minuto dos meus. "Não conseguias dormir? Nem eu, deve ser do calor".

Este tipo de abordagens repetiram-se constantemente. Um dia, Sara já tinha saído e eu estava a tomar banho quando Elsa entrou na casa de banho, despiu o soutien e sem pudor, lavou o rosto e o pescoço, sabendo que, por detrás da fina cortina, me era possível divisar aqueles portentosos seios, orgulhosamente empinados. Incapaz de controlar o desejo, o meu membro ergueu-se e eu não resisti a masturbar-me quando ela abandonou o local, sentindo vergonha de ser tão fraco. Noutra ocasião, em que estávamos novamente sozinhos, Elsa decidiu deambular pela casa sem nada mais sobre o corpo do que um soutien transparente e um delicado string, com o único objetivo de conduzir-me à loucura. Sentindo-me culpado, uma parte mais obscena de mim recusava-se a contar o sucedido a Sara que, entre os exames de final do curso, acreditava que a Elsa era "uma querida, não achas Guilherme?"
Sara saiu um fim-de-semana para ver os pais, assim como o outro rapaz com quem partilhávamos a casa. Estava consciente do perigo que se adivinhava. O mais certo seria ter ido com Sara ou arranjar qualquer forma de não permanecer sozinho com Elsa entre aquelas quatro paredes. Fiquei, sabendo o que me esperava.

Nessa mesma noite, cheguei já tarde, na esperança surda de adiar aquilo que o meu corpo desejava. Devagar e sem acender nenhuma luz, sentei-me no sofá, até que acabei por adormecer. Cedo senti uma boca a colada ao meu pescoço, uns dedos ágeis a despirem-me a camisola e as nádegas de Elsa no meu colo. Abri os olhos e ela estava completamente nua. E húmida de desejo, de tal modo que o meu pénis subitamente ereto viu-se sem saber como dentro dela. Os nossos corpos começaram-se a mover com a velocidade de animais selvagem, sedentos por satisfazer um instinto vital. Em pouco tempo, alcançámos o orgasmo e gritei naquele momento, um grito louco de uma raiva guardado dentro de mim durante todos estes dias, perante aquele monstro de volúpia que, satisfeita, saia do meu colo quase lambendo os lábios do prazer de ter saboreado o fruto proibido. "Nunca estiveste com ninguém para além da Sara, pois não", perguntou. "Não", respondi, sentindo-me sem forças sequer para falar, como se todo o meu ser tivesse sido sugado por aquele ventre de gata.

Tomei um duche de água fria, tentando abrandar o sangue que me corria mais rápido nas veias, na expectativa do final da noite. Quando saiu, Elsa estava deitada na cama, novamente nua, um corpo longo, de cintura fina e formas carnudas, toda a sua pele irradiando a energia de infindáveis prazeres. Dirigi-me até ela, com o pénis já completamente ereto. Elsa pegou nele, colocou-o dentro da boca e lambeu-o, gemendo com delicioso prazer. E só quando pressentiu que se aproximava o clímax se afastou, deitou-se de costas para mim, exibindo o recorte perfeito das nádegas e disse "penetra-me". Com tesão, entrei dentro dela e, com movimentos rápidos, sentindo o suor a libertar-se dos novos corpos e a voz dela a exigir "mais depressa", levei-a até um orgasmo profundo e terminei deitado na cama, caindo num turbulento sono. Os dois dias seguintes não tiveram muito mais história. Na banheira, no chão frio da cozinha, éramos dois animais à solta, sem rédeas e, de alguma estranha forma, sem alma. Quando adormecia, a imagem de Sara, daquele rosto de anjo, surgia-me em sonhos.

Domingo à noite deixei-me ficar ao lado de Elsa, na cama, sabendo que Sara devia estar a chegar. Quis que ela me visse assim, porque não tinha a coragem de lhe contar a verdade nem a força para mentir. Sara chegou e encontrou-nos juntos. Pediu-nos para deixar a casa. Não proferiu uma única palavra. Mas os seus olhos eram dois lagos opacos de tristeza e a minha alma morreu ao ver-se refletida neles.

Sexo virtual



Eram umas duas da manhã quando Eduardo apagou o computador e respirou fundo - estava com uma tesão descomunal. Nunca tinha pensado que as coisas pudessem ir tão longe, que os pensamentos se transformassem em palavras com tamanha rapidez, que a mente conseguisse ultrapassar assim todos os limites do recato e do pudor e que o desejo fosse incontrolável só com o calor das palavras.




A conversa num site de encontros com foxlady81 – site em que se tinha inscrito porque os amigos insistiam que ele tinha de dar umas quecas desde que se separara ou então ficava louco, tinha começado pelas banalidades usuais - como te chamas, que idade tens, como é que és... De início, apenas um pormenor lhe tinha cativado a atenção entre as centenas de seres virtuais que povoavam aquele site: a forma como se apresentava no pequeno texto junto ao seu perfil: “o destino da viagem não é o fim, o fim é a própria viagem.” E que viagem tinha iniciado, de tal forma que só esperava sair do trabalho para se colar ao pc.

"Gostas de sair à noite?", perguntara-lhe na noite anterior. "Nem por isso. Só quando sinto vontade de foder e não tenho companhia", foi a resposta que Eduardo obteve. "O.k., é ela que está a introduzir sexo na conversa", pensou, sentindo o pénis levemente duro, o que significava que, a partir daí, estaria completamente à vontade para avançar com o assunto, sobre o qual, no mundo real, por assim dizer, era um pouco enconado.

"Que bom não ter de fazer sala. Então, dá-te pica fazer amor com desconhecidos?", questionou com um sorriso de gozo. "Se me atrair. O importante é satisfazer o desejo mal ele surge. Choca-te esta frontalidade?", retorquiu foxlady81. "Um pouco", pensou Eduardo, mas controlou a ingenuidade do pensamento – quer dizer, que sabia ele destas coisas, se até ali só tivera uma mulher na sua vida, a namorada da secundária, com quem namorara dez anos antes de ela o trocar pelo professor de body combat - enquanto os dedos teclavam: "Não. Acho que é assim que o sexo deve ser encarado e não com falsos pudores."

Do outro lado, o comentário parecia ter agradado: "Acho que temos muitas coisas em comum. Também gostas de sexo em grupo?"
Agora é que ele estava a ficar em brasa. E a conversa prosseguiu no mesmo estilo, os dois sempre a rondarem a mesma questão, analisando quase friamente os limites da pessoa que se escondia por detrás do ecrã de computador. Eduardo entregou-se o jogo, esqueceu-se da estreiteza das suas experiências sexuais e assumiu um à-vontade total, como se sair de casa, fazer amor com uma desconhecida dentro do carro ou na casa de banho da discoteca fosse o mais banal dos acontecimentos na sua vida.

Quando desligou e fechou os olhos, adormeceu de imediato. Mas a sua mente preparava-lhe uma partida e o jovem sonhou que estava no quarto, sem conseguir adormecer. De súbito, do lado de fora da varanda, vislumbrou um corpo de mulher. Nesse instante, a janela abriu-se, a figura desconhecida colocou-se junto à cama e Eduardo reparou de imediato na saia em padrão tigrado, nas meias de reda que cobriam umas longas e bem torneadas pernas, no soutien preto transparente e na mascarilha que lhe escondia o rosto. Sem pronunciar uma só palavra, a estranha deitou-se sobre ele e começou a desapertar-lhe a camisa e a beijar-lhe o peito com ardor, fincando as unhas com tanta força nas suas costas que ficaram marcas vermelhas sobre a pele. Depois, despiu-lhe as calças e procurou com a boca húmida, numa ansiedade incontrolada, o membro já ereto que acariciou com a língua. Eduardo não tardou a experimentar uma excitação crescente e a aproximação apoteótica do orgasmo.

E foi então que acordou. Em seu redor, apenas o silêncio da noite. Pela janela, nenhum vulto se vislumbrava. "Ela está mesmo a tomar conta da minha mente", exclamou, virando-se para o outro lado e tentando reconciliar o sono.

O dia de trabalho passou muito devagar. Onde quer que estivesse, apenas aguardava o instante em que iria regressar ao site e novamente falar com aquela mulher. E à mesma hora, procurou por ela e a resposta não se fez esperar. "Por onde andaste?", perguntou Felina e Eduardo sentiu-se feliz. A estranha continuou: "Depois de ter desligado, apareceu um amigo meu cá em casa e foi uma noite de loucura total". Uma pontada de ciúme atacou-o. Mas o que deveria responder? Não havia qualquer relação entre eles, portanto, cenas de ciúme eram despropositados. "Também me encontrei hoje com uma ex-namorada e acabámos por foder à séria. Praticamente não dormi", retorquiu em tom de vingança.

A raiva fez Eduardo colocar a questão que nunca o abandonara desde a noite passada. "Vamo-nos encontrar?" Do outro lado, o silêncio, ou melhor, a ausência de caracteres. Por fim, uma resposta afirmativa: "Amanhã, às dez, junto ao bar X. Vou vestida de branco". E desligou.

Outra vez, aquela mulher lhe ensombrou o seu sono, também de rosto escondido por uma máscara preta. Mas, agora, trazia sobre as ondulantes formas do corpo um longo vestido branco, de alças finas, que deixava a descoberto a sensualidade das costas e do pescoço. Sobre a roupa quase transparente, adivinhavam-se uns mamilos saborosos e umas nádegas tentadores. Eduardo não voltou a ficar refém da surpresa, antes decidiu tomar conta dos acontecimentos do seu sonho. Quando a vislumbrou, imóvel junto à cama, agarrou-a com força entre os braços, beijou-lhe os lábios carnudos, explorou com a língua cada recanto daquela boca. Deitou-a em cima de cama, com os dentes puxou para baixo as alças do vestido e com os dedos segurou os seios imensos que não cabiam na palma da sua mão, trincando delicadamente os mamilos enquanto o corpo da desconhecida era visitada por tremores de prazer e lhe pedia ‘fode-me’ ao ouvido. A língua desceu lenta mas decididamente pelo recorte da barriga até atingir a leve pelugem. Brincando em redor do clitóris, foi com excitação crescente que os dedos de Eduardo sentiram que ela estava pronta para o receber dentro de si. Deitou-se sobre a desconhecida e o pénis duro e firme foi acolhido com volúpia e entre as suas pernas que se fecharam em redor da cintura do jovem. Sentindo um calafrio do mais puro desejo percorrer-lhe todo o corpo, Eduardo começou a mover-se dentro dela, ao mesmo tempo que os lábios devoravam o pescoço nu, os seios perfeitos, os lábios molhados. E teve, por fim, o orgasmo que lhe tinha sido prometido na noite anterior! Nesse exato momento, acordou em pânico! Teria coragem para se encontrar com ela?

A dúvida brincou com os seus pensamentos todo o dia. À noite, já estava decidido apesar de convencido que ela iria ficar completamente desiludida quando pousasse o olhar na sua figura tímida, se bem que atraente, e se apercebesse que tudo aquilo que ele lhe dissera era a mais pura das mentiras. "Perdido por cem, perdido por mil. Pelo menos, vou ver se ela é parecida com a mulher do meu sonho", concluiu com um encolher de ombros.

E à hora combinada, Eduardo entrou no bar e procurou entre as poucas mesas ocupadas a mulher de branco. Não vendo ninguém que se assemelha-se a tal descrição, sentou-se a um canto, onde podia observar quem entrasse. Olhou à volta - numa mesa, quatro amigos conversavam em voz alta, noutra, um casal trocava beijos apaixonados. Por fim, escondida, uma jovem, que não devia ter mais de vinte e cinco anos, bebia uma imperial com uma expressão intranquila. "
É bonita, mas não está de branco. Além do mais, tem um especto demasiado tranquilo para ser uma fera sexual", pensou. Até que se apercebeu que a rapariga se levantava e vinha até si.

"Eduardo?", perguntou a medo. Ao sinal afirmativo, passou a explicar. "O meu nome é Patrícia. Desculpa ter-te enganado e não estar vestida de branco, mas queria ter oportunidade para te ver primeiro. Pareces bem mais sossegado do que no site” comentou com um sorriso nervoso.

Eduardo sentiu-se mais tranquilo: "Bem, sabes que aquilo que é dito no chat por vezes não corresponde bem à imagem que nós temos. Posso ter exagerado um bocadinho".

Patrícia pareceu descontrair de imediato: "Ainda bem que dizes isso, porque o mesmo se passou comigo..." Respirando de alívio, Eduardo convidou-a a sentar-se. Afinal, poderia haver surpresas boas no meio daquela história toda...   

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Viagem ao paraíso




Eram sete da tarde. Eles estavam dentro do automóvel, imobilizado na fila interminável. Rui mantinha-se em silêncio, mas a sua mente esforçava-se desesperadamente por encontrar uma palavra, uma frase, que quebrasse a assustadora cortina de mutismo que caíra entre eles. 

Calava-o o medo de parece ridículo. Afinal, era assim que Sónia sempre o fizera sentir, desde o primeiro momento em que ele entrara no escritório e, desajeitadamente, tentara passar despercebido por entre as secretárias, para finalmente se alojar, qual criança desamparada, atrás do computador. Envergonhado, quando se atreveu, decorridos alguns minutos, a lançar um olhar perscrutador em redor, deparou-se, ˆ sua frente, com um manto de caracóis avermelhados. Decorridos alguns minutos, ela levantou-se e os olhos de Rui, hipnotizados, seguiram cada movimento efetuado por aquele corpo esguio. E nunca mais a sua atenção se desprendeu-se de cada palavra que Sónia trocava com os colegas ou ignorou as gargalhadas sonoras que ela soltava. De tal forma a seguia com os olhos, que era capaz de adivinhar o seu estado de espírito ao observar, cada manhã a cadência daqueles passos femininos. Mas ela nunca lhe dirigira a palavra. Rui sentia que, para a colega, era t‹o transparente como o vidro e mais etéreo do que o ar.

O automóvel avançou mais uns metros. "Vá lá, diz alguma coisa" gritava mentalmente o jovem, adivinhando que, nesse momento, Sónia pensava exatamente a mesma coisa. "Ou então beijo-a e termina de uma vez por todas com essa indecisão que te corrói a alma". Nesse instante, como a resposta que ele aguardava, ela procurou com a m‹o os dedos de Rui, que apertou com ternura. Exatamente como sucedera da primeira vez que ela reparou que ele existia, o jovem estremeceu, assustado com o bater desenfreado do coração.

Tinham decorrido duas semanas desde a sua chegada, mas permanecia incapaz de lhe dirigir a palavra. Uma manhã, Rui estava sozinho junto da máquina de café quando se apercebeu que Sónia se aproximava, naquele passo ligeiro que anunciava que acordara bem-disposta. Para seu espanto, ela deu pela sua existência. Parou, sorriu e esticou a mão em direção ao seu rosto. Assustado, Rui recuou com um salto, mas ela limitou-se a dizer com um sorriso tranquilizador:"Acho que tens um pouco de pasta de dentes no queixo". Vermelho como um pimento, o rapaz tentou com o dedo eliminar o incómodo resíduo, mas foi a colega que, humedecendo a ponta do dedo na própria boca, a pousou com suavidade na pele de Rui. E foi então que ele sentiu que nunca se encontrara mais próximo do paraíso do que naquele milagroso instante em que a pele dela pousara em si, um gesto inocente que ele transformou no instante mais precioso de uma existência cinzenta.

E nunca mais Sónia o tratou como se ele fosse transparente. Todos os dias o saudava com um sorriso radioso, capaz de iluminar a mais tristonha das manhãs. Esse gesto encheu Rui de coragem e comeou a convidá-la para tomar café a meio da manhã‹. E ela disse que sim. Uma manhã, em que ele não tinha carro, foi a vez de Sónia retribuir a gentileza, oferecendo-se para lhe dar boleia. Tratavam-se de gestos inócuos entre colegas. E assim seria, se n‹o fosse um pequeno acontecimento que os transportara para aquele instante especifico, dentro do carro, em silêncio, a mente de Rui presa na urgente questão - "Será que a devo beijar". E ela a olhar em frente, pelo vidro, como se estivesse apenas concentrada nos movimentos do trânsito. Mas ele sabia que nada daquilo era verdade.

Nesse dia, a meio da tarde, Rui aguardava pelo elevador quando, no corredor, a voz de Sónia lhe prendeu a atenção. Ela desabafava com uma colega: "Terminei tudo com ele. Não fazia sentido continuar uma relação quando não consigo deixar de pensar noutra pessoa." A interlocutora parecia surpresa: "Mas tu mal o conheces. Não és muito velha para amor à primeira vista? E já agora, fazes questão de lhe dizer?" A sugestão chocou Sónia: "Nunca! Estás doida. Sabes perfeitamente que o Rui não está minimamente interessado em mim. Mal sabe que eu me apaixonei por ele da primeira vez que o vi. Nem lhe conseguia dirigir a palavra." N‹o acreditando no que escutava, Rui foi surpreendido pelo aparecimento, na esquina do corredor, das duas amigas. Basta um simples olhar para Sónia compreender que ele ouvira tudo e foi a sua vez de corar intensamente. Forçando-se a reagir, Rui tentou fazer um ar inofensivo e limitou-se a perguntar "Ainda me dá boleia?" Ela respondeu com uma ligeiro movimento de cabeça e desapareceu no fundo do corredor.

Por fim, entraram no carro. E ela foi direta ao assunto. "Sei que ouviste a minha conversa com a Marta hoje à tarde. Não tens de te sentir mal com a situação. São coisas que acontecem, mas isso não vai interferir na nossa relação". Sónia disse estas frases com aparente frieza, como se estivesse a dar uma informação a um cliente do banco, completamente absorvida pela condução. Sem pensar, Rui exclamou: "Se calhar, eu quero mudá-la". E foi então que se instalou aquele silêncio perturbador.

Finalmente, os automóveis começaram a andar. Passados um ou dois minutos, o carro imobilizava-se frente ao prédio. "O que devo fazer agora", questionava-se o jovem, preso na silhueta pensativa da colega que esperava... Esperava o quê? Aquela rapariga confiante estava ali, a seu lado, transparecendo por cada poro insegurança e medo! Como as coisas tinham mudado! Esquecendo-se que anteriormente era ele que se sentia tímido e desajeitado, Rui puxou-a com fora contra si, acariciou-lhe os caracóis vermelhos, inspirou o perfume a cravo que se libertava dela e sussurrou-lhe ao ouvido: "Sobe comigo". Depois, afastou-se e deixou que ela estacionasse o carro. 

Entraram dentro de elevador e Sónia, cujo abraço trouxera de volta a antiga firmeza e decisão, encostou-se a ele num convite a ser beijada. Rui, que durante semanas escondera dentro de si o fogo que se libertava dentro dele de cada vez que a via, sentiu que o desejo se apoderava de tal forma do seu corpo, que era incapaz de dominar os gestos, de controlar as m‹os que percorriam os seios, as nádegas e as coxas de Sónia, de travar o ímpeto com que a sua língua explorava aquela boca fresca e húmida. Com decisão, imobilizou o elevador e, com dedos ágeis, subiu a saia de Sónia. Respondendo com igual ímpeto ao desejo de Rui, também as mãos desta se entreteram a baixar-lhe as calas. Foi desta forma que, contra a parede, segurando-lhe as pernas, ele penetrou aquela vagina quente e pulsante de vida. Foderam assim, dentro daquele cubículo, tentando abafar os gemidos que se queria soltar das suas gargantas, os corpos suados, vibrantes de volúpia. E foi assim que um orgasmo os surpreendeu em simultâneo, inundando cada célula dos seus corpos com uma erupção violenta que sacudiu a terra.

Só então se aperceberam do que tinham feito. "E se alguém nos apanhasse", perguntou Sónia, com um brilho de felicidade nos olhos. Entrando já no apartamento, Rui não teve tempo para responder porque, dominado por uma nova onda de desejo, pegou nela ao colo e levou-a para o quarto. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Longa espera

Catarina levantou-se da cama e vestiu o roupão. Deitado, Paulo dormia, embrulhado de tal forma no lençol que apenas se adivinhavam os espessos caracóis loiros. O corpo era, Catarina sabia-o bem, mais do que perfeito. Tudo nele soava perfeito. Então, porque é que, mais uma vez, só queria que ele acordasse e saísse do seu apartamento?

Debruçou-se sobre a janela que se deitava sobre o rio e pensou que tinha vinte e cinco anos e uma busca infeliz na sua vida. Desde daquele momento inicial, em que a paixão a levara a entregar-se nos braços de um homem, tinha dezasseis anos, que procurava o prazer que sabia ser intrínseco à natureza do sexo, tentando tocar esse mistério relatado nos livros, vivido no cinema e adivinhado no estranho mundo dos sonhos. Jamais a doce sensação de um gozo total tinha roçado a sua pele, nunca tinha sido envolvida por ardentes ondas de volúpia ou experimentara as chamas do desejo a subir pelo seu corpo, conseguindo fazê-la esquecer-se de si (pelo menos, assim descreviam os livros o prazer do sexo).

Os anos passavam, ia conhecendo pessoas, os afectos e as atrações naturalmente surgiam e, de novo, se via deitada numa cama, rendendo-se a umas mãos que lhe exploravam o corpo, um pénis a mexer-se dentro de si, mas, no final, apenas ficava como memória uma melancólica frustração. Não podia ser só aquilo, uma sensação de leve gozo quando a tocavam e, depois, mais nada. Nada de apoteótico, transcendência, imenso. Por isso, como uma forma de não desagradar ao parceiro, Catarina habituara-se a mentir. "Foi bom?", perguntavam-lhe em voz suave. "Claro que sim", respondia, com um sorriso que ocultava as sombras que dançavam nos seus olhos claros.



Paulo mexeu-se na cama, estendeu para ela os braços musculados e pediu com voz entaramelada de sono "Anda cá". Catarina sentou-se à beira da cama, desejando estar sozinha. "Logo à noite voltamos a ver-nos?", perguntou Paulo, com um tom de insegurança na voz. Catarina hesitou: "Não posso, vou sair com umas amigas, mas depois telefono-te". Ele não ocultou a expressão de tristeza que tocou o coração de Catarina. Ele era tão bom rapaz, mas ela sabia que não se iam ver outra vez. E essa frieza perturbava-a. Não era aquela a mulher que queria ser.

Mais tarde, pelas dez da noite, acompanhada por mais três amigas, entrou meio aborrecida num bar do Bairro Alto. A ideia de ser uma cabra sem coração ainda não a deixara e estava decidida a não se meter tão cedo em mais nenhuma aventura. Por isso mesmo, sentiu-se contrariada quando as amigas lhe chamaram a atenção para o facto de ter chamada a atenção de alguém, cujos olhos não se tinhas desprendido dela desde que entrara. Virou-se na direção que as amigas lhe apontavam e, no outro extremo do balcão, com uma cerveja numa das mãos e um sorriso no rosto de expressão viril e atraente, lá estava ele. Era um olhar descarado, firme, forte, que a perturbou. A sua idade era indefinida e o corpo, esguio, era atraente e sedutor. Catarina tentou ignorá-lo, mas os seus olhos estavam constantemente a regressar ao contacto com os dele, de tal forma perturbada que quando ele se aproximou dela e começou a falar sobre a música que se ouvia, como se já se conhecessem há muito, se deixou ficar a ouvir, sorrindo de vez em quando. Podia ser mais um engate sem história, era provável que fosse, mas algo dentro de si se sentia atraída por aquele homem, como se já o conhecesse há muito, como se, de alguma misteriosa maneira, se tivessem cruzado noutro tempo, noutra época, numa outra vida. Por fim, aceitou o convite para jantar na noite seguinte.

Há hora combinada, Catarina chegou ao restaurante, um lugar requintado, e agradeceu ter-se vestido à altura da ocasião, um vestido preto, de longo decote nas costas, que deixava expostas as suaves linhas da sua figura. Ele aguardava-a, também de negro: era a imagem da sofisticação e da elegância, mas, mais uma vez foi a energia que vinha dele que a entonteceu. "Sinto como se te conhecesse há anos", deu por si a declarar, quando o segundo copo de vinho fazia surtir o seu efeito dado que não estava habituada a beber. "É verdade, só não te recordas disso. Noutras vidas, fomos amantes". Ela sorriu com desconfiança, afinal aquilo ela era resposta estranha, mas a palavra ‘amantes’ fê-la corar, porque os imaginou aos dois, nus, a foderem como se não se houvesse amanhã.

No final da refeição, Pedro (pois era esse o nome) segurou-lhe na mão e disse: "Agora, vens comigo". Ela pensou dizer não e depois uma voz fez-se ouvir: ‘deixa-te ir’, dizia-lhe e ela obedeceu. Pedro conduziu pela marginal até chegar a uma casa, com vista para a baia de Cascais. "É aqui que moro. Gostas? Antes, vivemos junto ao mar e era na areia que fazíamos amor!" Para Catarina, estas palavras começavam a soar cada vez mais sedutoras.

Pedro abriu a porta e ela viu-se numa sala imensa, onde ardia um fogo acolhedor. Ele convidou-a a sentar-se em algumas almofadas, serviu-lhe um pouco de vinho e olhou-a com uma paixão indefinível, antes de puxar para si e lhe beijar os lábios lentamente. O beijo ardeu na pele de Catarina, que parecia prestes a explodir de uma expectativa exacerbada. Sabia que podia ser esta a sua primeira noite como mulher. Pedro começou a beijar-lhe os ombros nus, permitiu que a língua descesse pelas costas e, num só gesto, fez o vestido deslizar, deixando expostos os mamilos endurecidos que tocou devagar, até que um primeiro gemido se soltou da boca de Catarina. "Que saudades tinha do teu corpo", murmurou Pedro, antes de, acabando de a despir, mergulhar a cabeça por entre as suas pernas e, com a língua, penetrar naquele ardente recanto e brincar com o seu clitóris, com um à vontade de quem domina há muito os meandros daquele corpo. Pela primeira vez, Catarina sentiu que, na sua pele, se formavam ligeiras gotas de suor, que um doce calor subia por entre as suas pernas até a envolver completamente. Ë medida que ele a acariciava, a sua vagina humedecia-se em contacto com a pele daquele homem, que a desejava com a intensidade deixada por uma longa ausência. Puxou-o para si e abriu-lhe a camisa que deixou exposto um peito despido de pelos, uns braços vigorosos, que ela tocou com fervor, sentindo que muitas vezes j‡ estivera com aquele homem. Desapertou-lhe as calças e, com a mão, experimentou o membro endurecido que chamava por si. Com a língua, começou a acariciá-lo com movimentos suaves, até que o mergulhou inteiro dentro da boca. Por fim, Pedro deitou-a sobre as almofadas, com os dedos brincou mais um pouco com o seu clitóris, gozando com o facto de a sentir ardente de desejo, empurrando-o suavemente. Quando ela já estava pronta, fê-la abrir as pernas e deitando-se sobre ela penetrou-a devagar e Catarina viveu, pela primeira vez, o prazer de ser possuída. O cheiro, o sabor, a textura da pele de Pedro fundiram-se com o seu corpo, com as suas memórias, com o seu ser, cada vez mais, à medida que os movimentos se tornavam mais intensos, mais urgentes na necessidade de partilhar com ela o gozo. "Esperei por ti ", sussurrou Catarina, antes que um maravilhoso orgasmo a deixasse despida de palavras, mas plena de um prazer total. Ele ficou a repousar a seu lado, acariciando-lhe o cabelo. "Entendes agora?", perguntou. Suspirando, Catarina só conseguiu dizer: "Agora, compreendo tudo".




Traição ardente




Novamente o telefone a tocar a meio da noite, o corpo dele que saia da cama para responder à chamada, a voz dele que respondia, num ápice desperta da languidez do sonho, algumas poucas palavras proferidas em segredo, o silêncio absoluto quando regressava para a cama. Marta fingiu-se adormecida, obrigando-se a suster a puta da pergunta que lhe que a dominava há semanas: "Há outra mulher na tua vida?"
Há dois meses que aquela ideia povoava o espaço entre eles, apesar do Rui insistir em fingir que absolutamente nada se passava. Mas como dissimular as horas tardias a que ele chegava a casa? O perfume doce entranhado no fato, a forma discreta como a evitava na cama?
Deitada, fingia dormir, mas a proximidade do corpo do marido e as armadilhas da sua imaginação subtraiam-lhe a paz do corpo. Foi então que se apossou de Marta um subtil desespero, que a levou a encostar o corpo quente ao de Rui, num pedido mudo para ser tocada. Nem um só músculo dele se mexeu. Triste, mas não derrotada, antes dominada pela raiva surda de fêmea acossada, começou a beijar-lhe o pescoço enquanto a mão procurava o pénis entorpecido, acariciando-o com os dedos, para baixo e para cima. Quebrando o momento, soou a voz de Rui: "Não vês que estou cansado?". Marta sentiu a raiva a crescer e recusou-se a admitir a derrota, por isso com fúria cega entrou dentro dos lençóis, com a boca puxou para baixo as boxers e, sem lhe dar tempo para respirar, capturou o pénis entre os lábios, a língua envolvendo-o com movimentos sensuais e profundos. Claro que crescia, só podia crescer, e Marta sentiu-se vitoriosa e esqueceu naquele momento a dor que sentia. Rui rendia-se à sensualidade húmida da sua boca, perdia o domínio,  e nisto puxava-a contra si, subindo-lhe para cima da cintura a camisa de dormir e chamando-a com as mãos para que se sentasse  em cima de si. Marta sorriu e acolheu na vagina o membro ereto, contemplando o rosto de Rui, vencido pela sede do desejo que ela ainda lhe provocava, numa vingança surda. ‘Vem-te’ pediu em pensamento e assim se cumpriu a sua vontade pouco depois, quando mexendo-se com ritmo intenso, afundando cada vez mais o pénis dentro de si,  Rui se acabou por render ao seu poder, num orgasmo intenso, que fez o seu corpo estremecer.
Marta não sentiu qualquer prazer. Para ela, a vingança e não o desejo a movera, a vontade de provar-lhe que ainda detinha o controlo do seu desejo. Depois, adormeceu com dor.

No dia seguinte, uma decisão tinha tomado forma aos primeiros raios da alvorada – iria descobrir quem era ela. E com a mesma frieza controlada com que o dominara na cama, teceu o seu plano.

Ao final do dia, quando saiu do trabalho, colocou-o em execução e ligou ao marido e perguntou-lhe se ia jantar. "Não esperes por mim. Tenho uma reunião com o departamento financeiro da empresa". Ela desligou com um sorriso triste, pois ainda acalentava a esperança estúpida que ele viesse para casa e nada daquilo passasse de um sonho mau. Mas não, tinha de fazer o que planera e por isso meteu-se no carro e estacionou na esquina do prédio onde Rui trabalhava. E preparou-se para esperar. Passada meia hora, o carro do marido abandonava a garagem e passou rente ao de Marta. Estranhamente calma, ela iniciou a perseguição, certa que Rui se encaminhavam para casa da amante. A viatura saiu da cidade, entrou na autoestrada e, por fim, chegou a uma zona tranquila dos subúrbios. Pouco tempo depois, Rui imobilizou o carro frente a uma moradia de dois andares. Marta estacionou um pouco mais atrás, aguardou que o marido desaparecesse no interior do jardim e respirou fundo. Decorridos vinte minutos, saiu finalmente para o exterior. Com uma calma que desconhecia possuir, descalçou os sapatos e saltou o pequeno muro que protegia a vivenda. Deu consigo num relvado cuidado, pontuado por pequenos arbustos e roseiras. E sua frente, entreaberta, uma janela envidraçada. Movendo-se com cautela e protegida pelo manto nebuloso da noite que caia, Marta espreitou pela frecha. A sala estava completamente deserta, apenas dois copos de uísque abandonados em cima de uma pequena mesa indiciavam a presença de dois seres naquele espaço. Entrou na divisão e encaminhou-se em direção a um átrio, no qual uma escada de madeira envernizada devia conduzir aos quartos. E nesse momento, ao escutar o som de vozes, teve a certeza que Rui se encontrava no piso superior. Em silêncio, subiu os degraus, até que ficou em frente à porta do quarto, entreaberta. Devagar, aproximou-se e conseguiu ver o interior do quarto. Deitado na cama, Marta reconheceu o corpo musculado do marido, debaixo do qual se vislumbravam duas pernas femininas, envolvidas em meias de renda.
Rui devorava com a boca os seios gulosos daquela mulher desconhecida, trincando com os dentes os mamilos rosados, enquanto a mão afagava com força as coxas carnudas. A boca de Rui iniciou então a descida até ao sexo, lambendo a pele em redor do umbigo, imobilizando-se na zona da púbis, até que mergulhou sedenta na vagina quente. Os longos dedos da mulher, de unhas pintadas de vermelho, estavam pousados nos cabelos espessos do marido e o seu corpo contorcia-se em espasmos de volúpia. Mas a estranha não estava satisfeita e, com incontrolável furor, deitou-se de lado nos lençóis de cetim e foi assim que Rui a penetrou entre as nádegas, com gestos decididos, até que, saciada a sede, ficaram deitados lado a lado na cama.
Marta assistiu a tudo, primeiro com uma imensa mágoa, até que, para sua surpresa, os sentidos despertaram e uma suave excitação se apoderou do seu corpo, quando um calor húmido cresceu entre as pernas e a respiração se acelerou. Nesse instante, já não era o marido que estava naquela cama, fazendo amor com uma desconhecida. Era um espetáculo provocador e excitante que a fazia desejar ser possuída naquele exato momento.
Quando tudo terminou, ficou sem saber o que fazer. Até que a voz de Rui se elevou no ar – ‘Sabes que hoje é a última vez, no saber?’, perguntou à mulher morena. "Ontem, fiz amor com a minha mulher. Tenho a certeza que não a quero deixar. Esta foi a nossa despedida". O rosto da estranha abriu-se num sorriso irónico. "Nunca te pedi nada, pois não?". Rui começou a vestir-se lentamente, beijou-a uma última vez nos lábios e Marta soube que ele iria abandonar o quarto, pelo que aproveitou se escapulir escadas abaixo, sair pela janela, entrar no carro e conduzir rumo a casa, sempre com o coração a mil à hora.
Conduziu devagar para dar tempo ao marido de chegar antes dela. Rui esperava-a em silêncio na sala. Um único olhar bastou para entender que Marta conhecia a verdade. Isso agora não interessa nada’, disse-lhe Marta de um dos cantos da sala. O desejo insatisfeito continuava presente no seu corpo. Estava húmida e excitava-a saber que ele a ia possuir pouco tempo depois de ter feito outra mulher vir-se. Começou a despir-se à sua frente e apenas lhe ordenou: "Anda, vamos para o quarto".