segunda-feira, 22 de julho de 2013

A um passo de perdê-la


- Vais ter de lhe dizer o que sentes, ou então vais perdê-la!’
O pensamento ecoava repetidamente na cabeça de Dinis, fazendo o seu coração bater mais depressa. Como é que aquilo lhe podia estar a acontecer? Estava prestes a ir contra tudo o que sempre norteara a sua vida! Não era ele que dizia às raparigas que as amava. Eram elas que lhe diziam a ele. Não era ele completamente indiferente a essas histórias sentimentais? Porque é que tudo mudara quando Ana aparecera na sua vida?

Quando a conhecera, numa festa em casa de uns amigos, ficara de imediato cativado pelo seu sentido de humor, pela inteligência refinada, pelo sorriso irónico com que parecia lidar com Dinis, quando este tentava ser charmoso. Além de ser de uma beleza discreta, mas cheia de personalidade.
Na altura, ela avisou-a:
‘- Olha que tenho namorado’, dissera-lhe quando Dinis elogiara os seus olhos verdes.
Mas por detrás daquela atitude defensiva, ele sentia que Ana lhe achava graça. De que outra forma se poderia explicar que tivesse passado grande parte da noite a seu lado?
- ‘Onde está o teu namorado?’ – perguntou Dinis.
Os olhos dela, alegres até então, ficaram tristes:
- ‘Ele não tem muita paciência para os meus amigos. Acha-os uns pedantes com a mania que são adultos.’
Dinis, que era artista plástico, retorquiu: - ‘Então ele não ia gostar nada de mim!’
- ‘Ele não ia gostar de ti por outros motivos - respondeu Ana – iria achar que eu estava a simpatizar demasiado contigo.
Dinis ficou em silêncio. Não soube o que responder (o que para ele era uma novidade!). Por fim, convidou-a para dançar. O corpo de Ana, magro e elegante, colou-se com naturalidade ao dele, a cabeça repousando no seu ombro, o seu perfume entontecendo-o.
Vamos sair daqui, pediu-lhe.
Discretamente, abandonaram a festa e meteram-se no automóvel de Dinis que, sem uma palavra, conduziu até ao seu apartamento.
Subiram os dois e só então Ana falou: ‘nunca fiz isto antes.’
O coração de Dinis apertou-se ao sentir que não só a desejava, mas que a queria proteger e fazer sorrir nos seus braços. Porque ela não era feliz, fosse quem fosse o seu namorado.
Tomou-a nos braços. Beijou-a e ela correspondeu com medo que se transformou em doçura e paixão. Por fim, entregou-se completamente, suspirando, deixando que ele a tocasse com paixão, a despisse devagar e a conduzisse para a cama larga, onde quase sentiu que o seu coração parava.
Como desejava aquela mulher que se entregava assim, de forma tão inteira. Dinis, pela primeira vez na vida, sentia-se subjugado pelas suas emoções e isso era assustador e mágico.
Quando ela o puxou para si, convidando-o a que a tomasse, ele sentiu-se como um rapaz a fazer amor pela primeira vez. Devagar, de olhos fechados, entrou dentro da sua vagina quente e húmida, sentindo as unhas dela presas à sua pele e os lábios dela a soltarem gemidos de prazer.
Passaram a noite juntos e, de manhã, ela partiu, despedindo-se com um beijo terno e os olhos brilhantes.
Nesse dia, Dinis não conseguiu fazer mais nada a não ser pensar em Ana. Quando se lembrava que ela tinha namorado, quase sentia dores dos ciúmes que o visitavam. Queria e, ao mesmo tempo, tinha medo da fragilidade de se expor assim face a uma mulher.
Mas o pior foi quando recebeu, à noite, um email de Ana, onde ela lhe dizia que a noite anterior fora a mais marcante da sua vida, mas que lhe tinha de contar que estava de casamento marcado…
Aí, Dinis sentiu gelar. Não podia perdê-la! E soube que só havia uma coisa a fazer.
Ligou-lhe, disse-lhe que tinha uma coisa muito importante a dizer. Ana deu-lhe a sua morada e ele conduziu que nem um louco até ao apartamento, trepou as escadas ofegantes e, quando ela lhe abriu a porta, colocou um dos joelhos no chão antes de dizer: - ‘Amo-te e quero que fiques comigo!’
Os olhos dela encheram-se de lágrimas. E depois sorriu.