quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Atração versus razão



Entre a hipótese de perder o emprego ou a esperança de viver um grande amor, qual será a escolha de Susana?

A voz dela tinha o condão de irritar Susana. Que azar ter a chefe mais insuportável e chata de toda a empresa… E ainda por cima, embirrava com ela. Todos sabiam isso. Desde o primeiro dia de trabalho de Susana que se tornara no ódio de estimação da chefe. O motivo tinha um nome: Francisco!

Francisco era colega de Susana. Alto, moreno, elegante, atraía como um íman as atenções de quase todas as funcionárias da empresa. E Leonor, a chefe de Susana, não constituía excepção. Pelo que os colegas lhe foram revelando, ela percebeu que desde que Francisco entrara na empresa, há dois anos atrás, Leonor voltara para ele a sua atenção. Fizera tudo o que estava ao seu alcance para o seduzir, até acenar-lhe com a possibilidade de uma promoção.

- “Ela está habituada a ter os homens que quer”, contou a colega Sara a Susana, “e, por isso, quando percebeu que o Francisco não ia na conversa dela, ficou louca e passou a tratá-lo super mal e a qualquer rapariga que mereça a sua atenção.”

Ora, quando Susana chegou à empresa, tornou-se claro para todos que ela era essa rapariga. Talvez por causa da sua simpatia natural, da beleza do seu sorriso, dos longos cabelos castanhos encaracolados ou do nariz arrebitado, o certo é que prendeu de a atenção de Francisco. O rapaz apresentou-se e deu-lhe as boas vindas com a sua sedutora voz grave e, chegada a hora de almoço, fez questão de convidá-la. E ela aceitou, ainda sem reparar que os olhos da chefe estavam fixo nelas, despejando raiva.

Susana sentia-se bem com Francisco. Não foi preciso muito tempo para ter consciência disso. Mas rapidamente se apercebeu que, proporcionalmente à simpatia que tinham um pelo outro, crescia a antipatia de Leonor. O tratamento que esta lhe dava era óbvio para todos. Começaram os comentários e alguns colegas avisaram-na: “afasta-te do Francisco se queres manter este emprego”.E Susana queria muito. Tinha saído de casa dos pais graças a essa oportunidade. Arrendara um pequeno apartamento. Pela primeira vez na vida era financeiramente independente. Não podia correr o risco de ser despedida e de ter de bater novamente a casa dos pais. Só havia uma solução: afastar-se de Francisco.

Nessa altura, apercebeu-se que os seus sentimentos pelo jovem eram mais profundos do que pensava: deixar de beber com ele o primeiro café da manhã, deixar de almoçar com ele, perder as longas conversas em que a intimidade entre eles não parava de crescer, tudo isso lhe custava. Mas sabia que não tinha outra hipótese.

Com grande tristeza, no dia seguinte, quando Francisco se aproximou da sua mesa para a convidar para beber café, ela disse-lhe que não podia, sem sequer levantar os olhos do computador, tudo sob o olhar perscrutador de Leonor.

A cena repetiu-se ao almoço. Ao final do dia, ele perguntou-lhe baixinho se havia algum problema. Reunindo todas as suas forças, ela comentou: “claro que não, Francisco”.

Nos dois dias seguintes Susana manteve-se fiel a esta atitude. Francisco deixou por fim de se aproximar dela, mas era notória a tristeza que tudo aquilo que provocava. Leonor é que parecia ter acalmado na sua implicação com Susana.

Ao final do terceiro dia, quando Susana, já na rua, se dirigia para o seu automóvel, escutou passos atrás de si. Era Francisco que se aproximava. Ela parou enquanto ele lhe perguntava o que se passava… Para logo depois lhe confessar que estava apaixonada por ela. Nesse instante, todas as defesas de Susana ruíram por terra. Abraçaram-se, beijaram-se, ali, no meio da rua, enquanto ela lhe pedia desculpa por o ter tratado assim aqueles dias.

Foram para o apartamento dela, sem hesitar. Queriam estar juntos. Juntos com a urgência selvagem de existir um corpo a conhecer. Foi já no quarto que Francisco a despiu, para depois mergulhar a cabeça entre as suas pernas e, com a língua, penetrar na sua vagina e acariciar o seu clítoris. Na pele de Susana nasceram pequenas gotas de suor, à medida que um doce calor subia por entre as suas pernas. A sua vagina humedeceu e ela puxou-o para si, desapertou-lhe as calças e, com a mão, tocou o membro endurecido. A boca, húmida, quis tê-lo inteiro e assim, sem pudor, o pénis duro entrou inteiro dentro da sua boca. Francisco entrou dentro dela devagar, até ao momento em que o seu órgão estava inteiro dentro dela, para depois os movimentos se tornarem mais intensos, mais urgentes até partilharem o orgasmo. O primeiro de muitos, numa noite quente e inesquecivel.

No dia seguinte, chegaram juntos ao trabalho. Era óbvia a cumplicidade. Mas Susana tinha chegado a uma decisão: não era aquela mulher odiosa que a ia afastar de viver um grande amor. Mesmo que tivesse de pagar o preço...

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Simplesmente Maria

Maria julgava que era impossível que o homem dos seus sonhos olhasse um dia para ela. Mas o destino reservava-lhe uma agradável surpresa.


Uma rosa em cima do teclado do computador... Maria olhou, primeiro para a flor de pétalas vermelhas, depois em redor, procurando uma pista que lhe permitisse identificar o autor de tão inusitado gesto. À sua volta, apenas se ouvia o bater das teclas, a voz estridente de uma colega que discutia ao telefone e o som repetitivo do fax. Ninguém reparara nem no seu ar surpreso, nem na rosa pousada displicentemente na secretária. Maria optou por ser discreta e sentou-se sem pronunciar nenhum comentário. Podia tratar-se de uma partida maldosa de algum companheiro de trabalho, à espera da oportunidade para desatar a rir às gargalhadas. Ou podia ser de facto aquilo que parecia - um acto romântico. Quem seria o responsável?

Aparentemente, a jovem olhava o ecrã do computador. Na realidade, a mente vogava por outras paragens. Tentava destrinçar qual, de entre as presenças masculinas daquele escritório, poderia exprimir desta forma sentimentos que ela nunca imaginara. Olhou para cada um deles. O António era simpático, mas casado e pai de dois filhos, pelo que estava automaticamente fora de hipótese (ou talvez não...) . Depois, havia o Duarte. No caso dele, tudo era possível no que se referia a mulheres. Era incapaz de conhecer uma sem que tentasse, da forma desastrada, convencê-la a ir beber um copo a um bar qualquer. O que nunca resultava, claro, porque era inconcebível que qualquer rapariga com dois dedos de teste o levasse a sério. Depois, duas secretárias à esquerda, havia o Rui, um amor de rapaz, mas que só tinha olhos para a colega Mónica. 

O que deixava como última hipótese o Tomás. O Tomás... Só de pronunciar em pensamento aquele nome, um enorme suspiro se formava no seu peito. Não, isso é inconcebível, disse-lhe de imediato a pessimista que habitava a sua mente. Ele nunca se dignaria reparar em alguém tão insignificante como ela, com aqueles malditos quilinhos a mais, que a impediam de ostentar a figura elegante da Ana. Essa é andava há séculos a lançar as garras para cima de Tomás. Mas nem a esses avanços ele dera resposta... Às escondidas, contemplou embevecida o colega que, dentro do fato e casaco, parecia não um funcionário de banco, mas uma verdadeira estrela de cinema.

"Quem é que te ofereceu uma rosa". Em voz baixa, Maria suplicou a Mónica que se calasse. Mas logo a voz venenosa de Ana se fez ouvir: "Não acredito que alguém te tenha oferecido uma flor". Envergonhada, limitou-se a comentar que se tratava de uma brincadeira. Rui gritou do outro lado da sala que devia era ter um admirador secreto e logo pediu a Duarte para assumir o acto. Como Maria esperava, o jovem recusou a autoria. Nesse instante, a entrada do chefe na sala calou o burburinho e a jovem voltou a concentrar-se nos papéis, mas não sem antes reparar que os olhos de Tomás estavam pousados nela.

Quando regressou do almoço, ao lado da rosa encontrou um bilhete: "Aceitas jantar comigo esta noite? Deixa um papel dobrado ao pé da fotocopiadora com a resposta." Depois, o nome do restaurante e a hora do encontro. Não estava assinado. "Deve ser mesmo uma partido. Quer que eu aceite um convite mas não confessa a sua identidade." E novamente lá estava a atenção de Tomás fixada nela. E será que ele tinha de facto sorrido ou era um simples delírio, fruto da sua imaginação? Decidida a dar o assunto por terminado, levantou a voz a pediu para pararem com a brincadeira. Depois, muito corada, levantou-se e saiu da sala. Quando voltou, após ter respirarado fundo vinte vezes, encontrou um novo pedaço do papel. "Estou a falar a sério... Será que ainda não sabes quem sou?" Confusa, olhou em redor, mas apenas Tomás parecia ter-se apercebido do sucedido lançando-lhe um sorriso olhar apreensivo... Seria possível! E agora, o que fazer? Arriscar-se a responder e tornar-se a chacota de todos os colegas? Mas, caso fosse verdade, estaria a desperdiçar a oportunidade com que sonhava à um ano, desde que entrara ali e se deixara seduzir por aquele presença discreta e ao mesmo tempo profundamente sensual, aparentemente inacessível ao encanto feminine. Decidiu participar naquele jogo. Num pedaço de papel garatujou a palavra sim e, a meio da tarde, colocou-o no local combinado. O resto do tempo observou pelo canto do olho o comportamento do suposto autor do bilhete. Mas ou estava errada no seu pressuposto ou continuava fiel ao seu estilo discreto, porque não deu qualquer sinal. Por vezes, Maria achava que ele parecia mais bem-disposto do que de manhã, mas se calhar era só uma impressão parva.

Foi para casa e preparou.se para o grande momento. Já que tinha decidido avançar, ia jogar todos os trunfos. Escolheu uma camisola branca decotada, que destacava a brancura da pele sardente e o recorte generoso dos seios. Os longos cabelos ruivos apanhou-os ao alto, realçando a elegância do pescoço. Sentindo-se um pouco mais segura depois de se olhar ao espelho, saiu de casa

Quando se preparava para entrar no restaurante, as pernas tremiam e receou cair antes de chegar à mesa. Estava decidida a entrar devagar, de modo a ter tempo de fugir sem ser vista caso o parceiro fosse outro que não aquele que desejava. Mas o destino pregou-lhe uma partida. Ao chegar, foi encaminhada pelo empregado para uma mesa vazia, Ele estava atrasado ou então nem sequer vinha. Passado um minuto, sentiu uma mão pousada no seu ombro. O coração bateu desenfreadamente, até que ganhou coragem para olhar. E lá estava ele, com os grandes olhos castanhos fixados nos seus com um brilho intenso de felicidade. Durante alguns segundos ficaram em silêncio até que Tomás começou a falar. Foi então que Maria compreendeu que o jovem acreditara que ela descobrira desde o início que era ele o autor do bilhete. Ela negou com um sorriso. "Mas não me viste a sorrir para ti?". Maria respondeu que achara que era bom demais para ser verdade. E ele segurou-lhe a mão com força…

Acabaram a noite no apartamento dele. Não havia motivos para adiar um momento que ela desejava à tanto tempo. Sentir aquele corpo sobre o seu, percorrer com as mãos as linhas do tronco, os braços musculados, os ombros largos... Maria acreditava que era um sonho. Nem mesmo quando ele a despiu com paixão, mergulhou com a língua entre as suas pernas, com uma sensualidade felina e, por fim, a penetrou com o pénis hirto, que abriu caminho entre as suas pernas com a ânsia de um amante apaixonado, acreditou que fosse real. Apenas acreditou quando o sentiu dentro de si e um imenso grito de prazer se soltou dos seus lábios. Nunca sentira nada tão intenso, nenhuma sensação que dominasse de tal forma todos os sentidos.

Fizeram amor toda a noite, viciados no corpo um do outro. Enquanto se mexia com sensualidade, Tomás pronunciava palavras doces ao ouvido de Maria. E de cada vez que um orgasmo intenso se apoderava do seu corpo, ele abafava-lhe os gemidos com lábios… Por fim, adormeceram, cansados, extenuados até ao limite dos sentidos. “Quem diria, sussurrou-lhe Maria ao ouvido… Que numa simples flor se podia esconder tanto prazer.” Tomás sorriu e apertou-a com força entre os braços.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A um passo de perdê-la


- Vais ter de lhe dizer o que sentes, ou então vais perdê-la!’
O pensamento ecoava repetidamente na cabeça de Dinis, fazendo o seu coração bater mais depressa. Como é que aquilo lhe podia estar a acontecer? Estava prestes a ir contra tudo o que sempre norteara a sua vida! Não era ele que dizia às raparigas que as amava. Eram elas que lhe diziam a ele. Não era ele completamente indiferente a essas histórias sentimentais? Porque é que tudo mudara quando Ana aparecera na sua vida?

Quando a conhecera, numa festa em casa de uns amigos, ficara de imediato cativado pelo seu sentido de humor, pela inteligência refinada, pelo sorriso irónico com que parecia lidar com Dinis, quando este tentava ser charmoso. Além de ser de uma beleza discreta, mas cheia de personalidade.
Na altura, ela avisou-a:
‘- Olha que tenho namorado’, dissera-lhe quando Dinis elogiara os seus olhos verdes.
Mas por detrás daquela atitude defensiva, ele sentia que Ana lhe achava graça. De que outra forma se poderia explicar que tivesse passado grande parte da noite a seu lado?
- ‘Onde está o teu namorado?’ – perguntou Dinis.
Os olhos dela, alegres até então, ficaram tristes:
- ‘Ele não tem muita paciência para os meus amigos. Acha-os uns pedantes com a mania que são adultos.’
Dinis, que era artista plástico, retorquiu: - ‘Então ele não ia gostar nada de mim!’
- ‘Ele não ia gostar de ti por outros motivos - respondeu Ana – iria achar que eu estava a simpatizar demasiado contigo.
Dinis ficou em silêncio. Não soube o que responder (o que para ele era uma novidade!). Por fim, convidou-a para dançar. O corpo de Ana, magro e elegante, colou-se com naturalidade ao dele, a cabeça repousando no seu ombro, o seu perfume entontecendo-o.
Vamos sair daqui, pediu-lhe.
Discretamente, abandonaram a festa e meteram-se no automóvel de Dinis que, sem uma palavra, conduziu até ao seu apartamento.
Subiram os dois e só então Ana falou: ‘nunca fiz isto antes.’
O coração de Dinis apertou-se ao sentir que não só a desejava, mas que a queria proteger e fazer sorrir nos seus braços. Porque ela não era feliz, fosse quem fosse o seu namorado.
Tomou-a nos braços. Beijou-a e ela correspondeu com medo que se transformou em doçura e paixão. Por fim, entregou-se completamente, suspirando, deixando que ele a tocasse com paixão, a despisse devagar e a conduzisse para a cama larga, onde quase sentiu que o seu coração parava.
Como desejava aquela mulher que se entregava assim, de forma tão inteira. Dinis, pela primeira vez na vida, sentia-se subjugado pelas suas emoções e isso era assustador e mágico.
Quando ela o puxou para si, convidando-o a que a tomasse, ele sentiu-se como um rapaz a fazer amor pela primeira vez. Devagar, de olhos fechados, entrou dentro da sua vagina quente e húmida, sentindo as unhas dela presas à sua pele e os lábios dela a soltarem gemidos de prazer.
Passaram a noite juntos e, de manhã, ela partiu, despedindo-se com um beijo terno e os olhos brilhantes.
Nesse dia, Dinis não conseguiu fazer mais nada a não ser pensar em Ana. Quando se lembrava que ela tinha namorado, quase sentia dores dos ciúmes que o visitavam. Queria e, ao mesmo tempo, tinha medo da fragilidade de se expor assim face a uma mulher.
Mas o pior foi quando recebeu, à noite, um email de Ana, onde ela lhe dizia que a noite anterior fora a mais marcante da sua vida, mas que lhe tinha de contar que estava de casamento marcado…
Aí, Dinis sentiu gelar. Não podia perdê-la! E soube que só havia uma coisa a fazer.
Ligou-lhe, disse-lhe que tinha uma coisa muito importante a dizer. Ana deu-lhe a sua morada e ele conduziu que nem um louco até ao apartamento, trepou as escadas ofegantes e, quando ela lhe abriu a porta, colocou um dos joelhos no chão antes de dizer: - ‘Amo-te e quero que fiques comigo!’
Os olhos dela encheram-se de lágrimas. E depois sorriu.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sonho de adolescente





Maria amava Martim desde sempre. Agora, decidira-lhe confessar o seu amor. Seria possível que o sonho de uma vida se tornasse realidade?

Os braços dele envolveram-na com paixão, pressionando-a contra o seu corpo. Maria soltou um suspiro à medida que os lábios de Tomás se aproximavam dos seus. Sentia-se nervosa e, ao mesmo tempo, invadida por uma felicidade nova e poderosa. O momento estava quase, quase a chegar, aquele instante com que sonhara toda a sua vida.
Foi nesse instante que acordou. Abriu os olhos cor de mel e viu-se no seu quarto. Tudo aquilo não era mais do que um sonho. Romântico, bonito, sedutor. Mas a realidade era tão diferente! Porque é que o destino se comprazia em fazê-la sofrer ainda mais, mostrando-lhe o seu desejo concretizado sob a forma de um sonho? Tomás não estava ali, a seu lado, prestes a beijá-la…
Amava-o há tanto tempo! Apaixonara-se por Tomás quando tinha quinze anos. Os pais do jovem tinham acabado de chegar à vila e, com eles, vinha o filho, com os seus olhos castanho-esverdeado, o cabelo cor de fogo, o rosto bonito e o estilo rebelde. Desde que Maria o vira entrar na sala de aulas, nunca mais fora a mesma – um rubor subira-lhe ao rosto quando os olhos de Tomás pousaram nos dela, segundos antes de se sentar a seu lado, na carteira. Tinha ficado enfeitiçada. Passado pouco tempo, descobriu que não era só ela, mas também todas as outras raparigas, que suspiravam por ele.
Tornaram-se amigos. Nada mais. Isso não surpreendeu Maria. Era gordinha e usava uns enormes óculos de massa que lhe escondiam o rosto. Por que havia ele de preferi-la às suas colegas, bem mais giras?
Os anos foram passando. O corpo de Maria transformou-se e ganhou formas harmoniosas, os óculos foram substituídos por lentes de contacto, que mostravam o seu rosto bonito, de boneca. Desabrochou e tornou-se uma mulher. Nem por isso Martim deixara de tratá-la da mesma forma – como uma amiga… Nunca como uma rapariga por quem se pudesse apaixonar.
Vieram os anos da faculdade. Martim e Maria passaram a encontrar-se nas férias porque estudavam em cidades diferentes. Nada mudava. Martim tratava-a da mesma forma de sempre. Agora, iria vê-lo outra vez… Seria por isso que tivera aquele sonho? Afinal de contas, estava nervosa. Tomara uma decisão e iria cumpri-la agora que terminara o curso e regressara à vila, para um mês de férias antes de começar a trabalhar em Lisboa.
Martim chegava naquele dia e tinham combinado encontrar-se ao final da tarde junto da nascente do rio, um local onde tinham estado muitas vezes no passado. Aquelas férias seriam o fim de um ciclo, pois Maria decidira contar-lhe o que sentia. Não que tivesse alguma esperança de que Martim retribuísse o sentimento, mas precisava de se libertar e de seguir em frente com a sua vida.
Com nervosismo, levantou-se e iniciou o seu dia. Parecia-lhe que as horas não passavam. Mas a verdade é que quando, às cinco da tarde, chegou ao local do encontro e viu o carro de Martim aí estacionado, estremeceu. Estava nervosa.
Aproximou-se devagar por detrás dos arbustos. O som mágico das cascatas envolvia o local. Sempre soubera que, se um dia confessasse o seu amor a Martim, seria ali. Viu-o então sentado numa pedra, a olhar o rio, perdido nos seus pensamentos. O perfil perfeito do rosto desenhava-se contra a paisagem. Maria estremeceu, mas caminhou até ele. Martim, ao escutar os seus passos, voltou-se e os lábios abriram-se num sorriso.
A jovem retribui-lhe o sorriso. Como era bom estar ali, com ele. Antes de regressar à realidade.
- Então, o que queres conversar comigo? Deve ser importante para escolheres um local tão secreto.
Maria sabia que se conheciam há demasiado tempo para conversas fúteis. Ele tinha ido directo ao assunto. Era agora ou nunca…
- Sabes estes anos, em que foi tua amiga? A verdade é que te enganei sempre…
Martim olhou-a, perplexo. Maria, agora que começara, não ia perder a coragem.
- A verdade é que sempre te amei. Desde o primeiro momento em que te vi…
Pronto, estava dito. Maria sentia-se leve. Faltava-lhe apenas a coragem para olhar para Martim, que continuava de pé, a seu lado.
Foi nisto que sentiu que a mão dele agarrava a sua e a apertava com força. Virou e observou a mesma emoção que sentia expressa no rosto de Martim. O que significa aquilo?
Viu-se apertada entre os seus braços, tal qual o seu sonho. Os lábios de Martim aproximavam-se dos seus… Seria um sonho? Iria ela despertar?
Dessa vez, não acordou. Trocaram um longo e apaixonado beijo. Só depois Maria se afastou um pouco e demonstrou-lhe num simples olhar toda a surpresa.
- Não compreendes que te amo há muito tempo? Também eu pensava que era só amizade o que sentias por mim…
Os braços de Maria envolveram-lhe o pescoço. Rebolaram, beijando-se, pela erva molhada, ao mesmo tempo que se iam despindo de uma forma desastrada. Ninguém os podia avistar ali. A tarde estava tépida. Os corpos ficaram nus. Martim beijou-lhe os seios com ardor. A vagina de Maria estava já húmida quando ele se deitou sobre ela e a penetrou com suavidade, fundindo-se os corpos em movimentos sincopados. Num beijo eterno atingiram o orgasmo de uma forma mágica…
Quando Maria abriu os olhos e viu o rosto de Martim sorrir para ela, teve a certeza que valera bem esperar dez anos por aquele momento…


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Prenda de anos




“Será que ele nunca me vai beijar?”

André não lhe podia ler o pensamento, mas, nessa noite, Mariana desejou com toda a força que ele possuísse esse poder de super-herói. Não se podia ter enganado sobre os sinais que ele lhe lançara. O olhar demorado quando se focava nela, o sorriso que lhe oferecia quando a abordava, a forma como tentava sempre ficar perto dela, chamar-lhe a atenção, seduzi-la.

“Não lhe dei já sinais suficientes de que também estou interessada?”, perguntava-se a jovem quando se escapuliu para a casa de banho, para conseguir ficar sozinha alguns momentos. E logo uma outra voz dentro da sua cabeça lhe disse que estava a ser parva. Que estava simplesmente a interpretar de acordo com o seu desejo secreto uma série de acções de André que eram, no mínimo, subjectivas. Só porque o rapaz se mostrara simpático com ela não queria dizer que houvesse ali um interesse extra. O que é que lhe passara pela cabeça para se apaixonar assim por alguém que, provavelmente, nunca poderia ser seu?


Respirou fundo e olhou-se ao espelho da casa de banho. Foi-lhe devolvida a sua imagem de uma jovem bonita, com imensos e doces olhos azuis, cabelo castanho dourado e uns lábios rosados. “Serei suficientemente bonita para atrair um homem como André?”, questionou-se. Algu Nesse momento, a sua insegurança e timidez subiram como uma vaga gigante e Mariana convenceu-se naquele instante que nada daquilo era real.

Quando saiu da casa de banho e se dirigiu para junto dos amigos, viu que André se entretinha a falar com Carlota. Qual era a dúvida? Não era Carlota uma jovem vistosa, extrovertida, atiradiça? Pois bem, era absolutamente normal que André gostasse das atenções que ela lhe dispensava…
Pensativa, Mariana sentou-se na outra ponta da mesa, deixando o seu lugar entregue à bela Carlota, esforçando-se por participar nas outras conversas do grupo, mas sempre tentando escutar, apesar da música, o que se estava a passar entre eles os dois…

Conhecia André há já algum tempo. O jovem regressara de um estágio em Londres e o irmão dele, o Tomás, não tardou a apresentá-lo ao grupo de amigos. André fez logo sucesso entre as mulheres: era giro, encantador, inteligente. O assédio começou então. Cada uma delas (com excepção de Mariana, que era demasiado tímida para tentar algo assim) esforçou-se por conquistá-lo. Mas ele parecia difícil, porque, apesar de se mostrar sempre simpático, nunca dera azo a que mais alguma coisa acontecesse…

Pelo contrário, parecia gostar cada vez mais da companhia de Mariana. Sentava-se a seu lado quando jantavam juntos, procurava saber os seus gostos, ria-se das suas piadas. Mariana, que na verdade já estava há algum tempo apaixonada por André, começou a acreditar que talvez existisse da parte dele um outro interesse que não o da simples amizade: por vezes era um olhar, noutras ocasiões uma palavra que pareciam esconder significados obscuros. Mas se calhar era apenas a sua imaginação a falar mais alto…

Essa noite, ele dedicara-lhe uma atenção especial. Mas talvez fosse apenas porque eram os seus anos – aquela noite, Mariana celebrava o seu vigésimo quinto aniversário – pensava agora a jovem, ao vê-lo conversar alegremente com Carlota.

Subitamente, as lágrimas subiram-lhe aos olhos. Tinha de sair dali, apanhar ar, fugir de André! Por isso, levantando-se de um salto, subiu as escadas que davam para o terraço, onde se encontravam apenas alguns casais de namorados.

Encostou-se ao pequeno muro e, assim, protegida, deixou que as lágrimas corressem, livres pelo rosto.

- “Abandonaste a tua festa de anos...”, escutou então atrás de si.

Não, não estava a sonhar. Era a voz de André. Com vergonha, tentou limpar com as costas das mãos o rosto molhado, mas ele já tinha reparado no que se passava… Porém, não fez perguntas, antes, com os olhos brilhantes, estendeu-lhe um pequeno embrulho, dizendo apenas: “a tua prenda.”

Com mãos trémulas, ela abriu o embrulho. E nas suas mãos brilhou uma pulseira com pequenos pingentes Um deles era um pequeno coração e foi essa visão que fez o seu coração bater mais depressa. Mas não consegui agradecer-lhe porque nesse instante os lábios de André já se tinham colado aos seus, beijando-a com sofreguidão. E todo o seu corpo retribuiu essa entrega.

De mãos dadas, saíram dali sem ninguém dar conta, meteram-se num táxi e foram até ao apartamento de Mariana. Foi aí que André a despiu com lentidão, enquanto a respiração da jovem se tornava mais rápida. Por fim, ela estava nua, à sua frente, e André olhava-a com paixão e surpresa, para logo a envolver com os braços, tocando as suas costas, o seu peito, as suas nádegas, pressionando contra a sua pubis o pénis erecto, o que a fez transbordar de prazer. 

André sentou-se na cama, Mariana sentou-se sobre ele e assim ele a penetrou, devagar, acariciando-lhe os mamilos rosados. Nessa noite, perderam a noção do tempo, das vezes que fizeram amor, das palavras de paixão que murmuraram ao ouvido um do outro.
Aquela fora, sem duvida, a melhor prenda de anos que Mariana podia desejar.

sábado, 18 de maio de 2013

Ao som da música




O som abafava todas as vozes. As luzes eram hipnóticas. A música fazia os corpos moverem-se freneticamente.

Inês estava no meio da pista da discoteca, os olhos fechados, o corpo a balançar seguindo o ritmo, os braços no ar, a mente vazia… Era o seu último dia de férias. E isso era algo que ela desejava conseguir esquecer.



Por isso, dançava cada vez mais depressa, tentando que todos os pensamentos abandonassem o seu cérebro. Principalmente aqueles que tinham a ver com Filipe.

Mas eram esses os mais teimosos.

Porque é que não o conseguia tirar da cabeça? Baixinho, repetia como uma ladainha, “ele nunca será teu”, “ele nunca será teu.”

Provavelmente, naquele mesmo instante, ele estava com Rita. Não fora sempre dela que Filipe gostara durante aqueles quatro anos do curso? Não fora sempre atrás dela que ele andara, como um cão atrás do dono. E com quem é que ele desabafava quando a Rita o tratava mal? Com Inês, claro.

Agora, na viagem de final de curso, nada mudara. Por que é que Inês se convencera que era agora ou nunca? Lá porque Filipe se tornara sentimental na noite anterior (com a ajuda de umas cervejas), dizendo-lhe o quanto ia sentir a sua falta e o quanto ela fora importante para ele durante aqueles anos, isso não lhe dava o direito de acreditar que alguma coisa ia mesmo mudar, que, por qualquer milagre da natureza, ele se ia aperceber que era por ela, e não por Rita, que estava apaixonado. Lá porque Filipe não procurara a companhia de Rita uma única vez na noite anterior, convidando-a em vez disso a ela para dançar, lá porque lhe acariciara o cabelo com ternura infinita, fazendo o coração de Inês estremecer, isso não devia ser suficiente para ela acreditar que, afinal, Filipe iria ser seu!

Esperou a noite toda por um beijo que nunca chegou. Ele não saiu de ao pé dela, puxou-a pela mão para dançar, falou-lhe ao ouvido, mirou-a com os olhos brilhantes, mas esse beijo nunca chegou. E como Inês o desejava, nem que fosse um só e numa só noite da sua vida. Mesmo que, no dia seguinte, Filipe se arrependesse, Inês teria pelo menos a recordação desse instante para a alimentar nos dias futuros.

Os colegas repararam que havia um clima diferente entre eles. Amigas dela comentaram: “o que é que se passa hoje com o Filipe?” e ela limitara-se a sorrir. Mas no final da noite, já no hall do hotel, quando cada um ia para o seu quarto, ele limitara-se a dizer-lhe ao ouvido “gosto muito de ti” para depois se afastar.
No dia seguinte, na praia, ele mantivera-se um pouco distante dela, como se envergonhado pela forma como se comportara na noite anterior. Rita mostrava-se extremamente solicita para com ele. Estendeu a toalha ao lado da de Filipe e ali montou a tenda. Inês limitou-se a observá-los à distância. Em silêncio.

Depois de jantar, o grupo separou-se. Alguns deles foram para a discoteca, os outros disseram que iam lá ter mais tarde. Entre esses, estavam Filipe e Rita. O coração de Inês estremeceu quando se apercebeu disso mas, como sempre, não demonstrou as suas emoções. Se era assim que tinha de ser, pronto, que fosse…

Agora, tentava que a música a fizesse abstrair de tudo isso. Que tirasse de dentro da sua cabeça a imagem de Filipe e Rita juntos, quem sabe na mesma cama… Mas a imagem teimava em não a abandonar.

Nisto, ao abrir os olhos, pensou que sonhava. Um pouco afastado, encostado a uma coluna, o rosto bonito escondido pelas sombras, estava Filipe. Que parecia preso em contemplação. Que parecia olhar apenas para ela. “Estou a sonhar” pensou a jovem, “quero tanto vê-lo que já alucino”

Não, era mesmo ele. Inês sorriu-lhe e fez um gesto com a mão, a convidá-lo para juntar-se a ela na pista.

Ele retribuiu o sorriso e aproximou-se.

Inês pensou perguntar-lhe o que fazia ali, onde estava Rita, mas acabou por não dizer nada.

Ele estava a dançar ao lado dela, as mãos dele na sua cintura, as coxas dela a roçarem as pernas dele, o perfume dele a entrar dentro dela, os lábios dele junto aos seus, as testas juntas, os corpos ao mesmo ritmo, o sorriso dele por tudo o lado, as peles coladas, o que é que estava ali a passar-se, mas era tão bom, a sensação de que Filipe a desejara, e eis que os lábios dele procuraram a medo os seus, como se tivessem medo que ela os rejeitasse e foi então que Inês percebeu que, durante tudo esse tempo, fora apenas isso que ele sentira, medo que ela não o desejasse, e então foi a vez dela procurar os seus lábios e dizer-lhe assim “vem, sou tua…”

Beijaram-se durante muito tempo, os lábios colados como se sempre tivesse sido assim, o desejo a nascer tão forte que acabaram por sair dali quase a correr, as mãos dadas, felizes, para o hotel, até se trancarem no quarto dele, tirarem as roupas, acariciarem-se com urgência e se fundirem num só.

E quando atingiram o clímax, ele gritou bem alto as palavras que ela sempre quisera ouvir: “amo-te”