quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Simplesmente Maria

Maria julgava que era impossível que o homem dos seus sonhos olhasse um dia para ela. Mas o destino reservava-lhe uma agradável surpresa.


Uma rosa em cima do teclado do computador... Maria olhou, primeiro para a flor de pétalas vermelhas, depois em redor, procurando uma pista que lhe permitisse identificar o autor de tão inusitado gesto. À sua volta, apenas se ouvia o bater das teclas, a voz estridente de uma colega que discutia ao telefone e o som repetitivo do fax. Ninguém reparara nem no seu ar surpreso, nem na rosa pousada displicentemente na secretária. Maria optou por ser discreta e sentou-se sem pronunciar nenhum comentário. Podia tratar-se de uma partida maldosa de algum companheiro de trabalho, à espera da oportunidade para desatar a rir às gargalhadas. Ou podia ser de facto aquilo que parecia - um acto romântico. Quem seria o responsável?

Aparentemente, a jovem olhava o ecrã do computador. Na realidade, a mente vogava por outras paragens. Tentava destrinçar qual, de entre as presenças masculinas daquele escritório, poderia exprimir desta forma sentimentos que ela nunca imaginara. Olhou para cada um deles. O António era simpático, mas casado e pai de dois filhos, pelo que estava automaticamente fora de hipótese (ou talvez não...) . Depois, havia o Duarte. No caso dele, tudo era possível no que se referia a mulheres. Era incapaz de conhecer uma sem que tentasse, da forma desastrada, convencê-la a ir beber um copo a um bar qualquer. O que nunca resultava, claro, porque era inconcebível que qualquer rapariga com dois dedos de teste o levasse a sério. Depois, duas secretárias à esquerda, havia o Rui, um amor de rapaz, mas que só tinha olhos para a colega Mónica. 

O que deixava como última hipótese o Tomás. O Tomás... Só de pronunciar em pensamento aquele nome, um enorme suspiro se formava no seu peito. Não, isso é inconcebível, disse-lhe de imediato a pessimista que habitava a sua mente. Ele nunca se dignaria reparar em alguém tão insignificante como ela, com aqueles malditos quilinhos a mais, que a impediam de ostentar a figura elegante da Ana. Essa é andava há séculos a lançar as garras para cima de Tomás. Mas nem a esses avanços ele dera resposta... Às escondidas, contemplou embevecida o colega que, dentro do fato e casaco, parecia não um funcionário de banco, mas uma verdadeira estrela de cinema.

"Quem é que te ofereceu uma rosa". Em voz baixa, Maria suplicou a Mónica que se calasse. Mas logo a voz venenosa de Ana se fez ouvir: "Não acredito que alguém te tenha oferecido uma flor". Envergonhada, limitou-se a comentar que se tratava de uma brincadeira. Rui gritou do outro lado da sala que devia era ter um admirador secreto e logo pediu a Duarte para assumir o acto. Como Maria esperava, o jovem recusou a autoria. Nesse instante, a entrada do chefe na sala calou o burburinho e a jovem voltou a concentrar-se nos papéis, mas não sem antes reparar que os olhos de Tomás estavam pousados nela.

Quando regressou do almoço, ao lado da rosa encontrou um bilhete: "Aceitas jantar comigo esta noite? Deixa um papel dobrado ao pé da fotocopiadora com a resposta." Depois, o nome do restaurante e a hora do encontro. Não estava assinado. "Deve ser mesmo uma partido. Quer que eu aceite um convite mas não confessa a sua identidade." E novamente lá estava a atenção de Tomás fixada nela. E será que ele tinha de facto sorrido ou era um simples delírio, fruto da sua imaginação? Decidida a dar o assunto por terminado, levantou a voz a pediu para pararem com a brincadeira. Depois, muito corada, levantou-se e saiu da sala. Quando voltou, após ter respirarado fundo vinte vezes, encontrou um novo pedaço do papel. "Estou a falar a sério... Será que ainda não sabes quem sou?" Confusa, olhou em redor, mas apenas Tomás parecia ter-se apercebido do sucedido lançando-lhe um sorriso olhar apreensivo... Seria possível! E agora, o que fazer? Arriscar-se a responder e tornar-se a chacota de todos os colegas? Mas, caso fosse verdade, estaria a desperdiçar a oportunidade com que sonhava à um ano, desde que entrara ali e se deixara seduzir por aquele presença discreta e ao mesmo tempo profundamente sensual, aparentemente inacessível ao encanto feminine. Decidiu participar naquele jogo. Num pedaço de papel garatujou a palavra sim e, a meio da tarde, colocou-o no local combinado. O resto do tempo observou pelo canto do olho o comportamento do suposto autor do bilhete. Mas ou estava errada no seu pressuposto ou continuava fiel ao seu estilo discreto, porque não deu qualquer sinal. Por vezes, Maria achava que ele parecia mais bem-disposto do que de manhã, mas se calhar era só uma impressão parva.

Foi para casa e preparou.se para o grande momento. Já que tinha decidido avançar, ia jogar todos os trunfos. Escolheu uma camisola branca decotada, que destacava a brancura da pele sardente e o recorte generoso dos seios. Os longos cabelos ruivos apanhou-os ao alto, realçando a elegância do pescoço. Sentindo-se um pouco mais segura depois de se olhar ao espelho, saiu de casa

Quando se preparava para entrar no restaurante, as pernas tremiam e receou cair antes de chegar à mesa. Estava decidida a entrar devagar, de modo a ter tempo de fugir sem ser vista caso o parceiro fosse outro que não aquele que desejava. Mas o destino pregou-lhe uma partida. Ao chegar, foi encaminhada pelo empregado para uma mesa vazia, Ele estava atrasado ou então nem sequer vinha. Passado um minuto, sentiu uma mão pousada no seu ombro. O coração bateu desenfreadamente, até que ganhou coragem para olhar. E lá estava ele, com os grandes olhos castanhos fixados nos seus com um brilho intenso de felicidade. Durante alguns segundos ficaram em silêncio até que Tomás começou a falar. Foi então que Maria compreendeu que o jovem acreditara que ela descobrira desde o início que era ele o autor do bilhete. Ela negou com um sorriso. "Mas não me viste a sorrir para ti?". Maria respondeu que achara que era bom demais para ser verdade. E ele segurou-lhe a mão com força…

Acabaram a noite no apartamento dele. Não havia motivos para adiar um momento que ela desejava à tanto tempo. Sentir aquele corpo sobre o seu, percorrer com as mãos as linhas do tronco, os braços musculados, os ombros largos... Maria acreditava que era um sonho. Nem mesmo quando ele a despiu com paixão, mergulhou com a língua entre as suas pernas, com uma sensualidade felina e, por fim, a penetrou com o pénis hirto, que abriu caminho entre as suas pernas com a ânsia de um amante apaixonado, acreditou que fosse real. Apenas acreditou quando o sentiu dentro de si e um imenso grito de prazer se soltou dos seus lábios. Nunca sentira nada tão intenso, nenhuma sensação que dominasse de tal forma todos os sentidos.

Fizeram amor toda a noite, viciados no corpo um do outro. Enquanto se mexia com sensualidade, Tomás pronunciava palavras doces ao ouvido de Maria. E de cada vez que um orgasmo intenso se apoderava do seu corpo, ele abafava-lhe os gemidos com lábios… Por fim, adormeceram, cansados, extenuados até ao limite dos sentidos. “Quem diria, sussurrou-lhe Maria ao ouvido… Que numa simples flor se podia esconder tanto prazer.” Tomás sorriu e apertou-a com força entre os braços.

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