segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Traição ardente




Novamente o telefone a tocar a meio da noite, o corpo dele que saia da cama para responder à chamada, a voz dele que respondia, num ápice desperta da languidez do sonho, algumas poucas palavras proferidas em segredo, o silêncio absoluto quando regressava para a cama. Marta fingiu-se adormecida, obrigando-se a suster a puta da pergunta que lhe que a dominava há semanas: "Há outra mulher na tua vida?"
Há dois meses que aquela ideia povoava o espaço entre eles, apesar do Rui insistir em fingir que absolutamente nada se passava. Mas como dissimular as horas tardias a que ele chegava a casa? O perfume doce entranhado no fato, a forma discreta como a evitava na cama?
Deitada, fingia dormir, mas a proximidade do corpo do marido e as armadilhas da sua imaginação subtraiam-lhe a paz do corpo. Foi então que se apossou de Marta um subtil desespero, que a levou a encostar o corpo quente ao de Rui, num pedido mudo para ser tocada. Nem um só músculo dele se mexeu. Triste, mas não derrotada, antes dominada pela raiva surda de fêmea acossada, começou a beijar-lhe o pescoço enquanto a mão procurava o pénis entorpecido, acariciando-o com os dedos, para baixo e para cima. Quebrando o momento, soou a voz de Rui: "Não vês que estou cansado?". Marta sentiu a raiva a crescer e recusou-se a admitir a derrota, por isso com fúria cega entrou dentro dos lençóis, com a boca puxou para baixo as boxers e, sem lhe dar tempo para respirar, capturou o pénis entre os lábios, a língua envolvendo-o com movimentos sensuais e profundos. Claro que crescia, só podia crescer, e Marta sentiu-se vitoriosa e esqueceu naquele momento a dor que sentia. Rui rendia-se à sensualidade húmida da sua boca, perdia o domínio,  e nisto puxava-a contra si, subindo-lhe para cima da cintura a camisa de dormir e chamando-a com as mãos para que se sentasse  em cima de si. Marta sorriu e acolheu na vagina o membro ereto, contemplando o rosto de Rui, vencido pela sede do desejo que ela ainda lhe provocava, numa vingança surda. ‘Vem-te’ pediu em pensamento e assim se cumpriu a sua vontade pouco depois, quando mexendo-se com ritmo intenso, afundando cada vez mais o pénis dentro de si,  Rui se acabou por render ao seu poder, num orgasmo intenso, que fez o seu corpo estremecer.
Marta não sentiu qualquer prazer. Para ela, a vingança e não o desejo a movera, a vontade de provar-lhe que ainda detinha o controlo do seu desejo. Depois, adormeceu com dor.

No dia seguinte, uma decisão tinha tomado forma aos primeiros raios da alvorada – iria descobrir quem era ela. E com a mesma frieza controlada com que o dominara na cama, teceu o seu plano.

Ao final do dia, quando saiu do trabalho, colocou-o em execução e ligou ao marido e perguntou-lhe se ia jantar. "Não esperes por mim. Tenho uma reunião com o departamento financeiro da empresa". Ela desligou com um sorriso triste, pois ainda acalentava a esperança estúpida que ele viesse para casa e nada daquilo passasse de um sonho mau. Mas não, tinha de fazer o que planera e por isso meteu-se no carro e estacionou na esquina do prédio onde Rui trabalhava. E preparou-se para esperar. Passada meia hora, o carro do marido abandonava a garagem e passou rente ao de Marta. Estranhamente calma, ela iniciou a perseguição, certa que Rui se encaminhavam para casa da amante. A viatura saiu da cidade, entrou na autoestrada e, por fim, chegou a uma zona tranquila dos subúrbios. Pouco tempo depois, Rui imobilizou o carro frente a uma moradia de dois andares. Marta estacionou um pouco mais atrás, aguardou que o marido desaparecesse no interior do jardim e respirou fundo. Decorridos vinte minutos, saiu finalmente para o exterior. Com uma calma que desconhecia possuir, descalçou os sapatos e saltou o pequeno muro que protegia a vivenda. Deu consigo num relvado cuidado, pontuado por pequenos arbustos e roseiras. E sua frente, entreaberta, uma janela envidraçada. Movendo-se com cautela e protegida pelo manto nebuloso da noite que caia, Marta espreitou pela frecha. A sala estava completamente deserta, apenas dois copos de uísque abandonados em cima de uma pequena mesa indiciavam a presença de dois seres naquele espaço. Entrou na divisão e encaminhou-se em direção a um átrio, no qual uma escada de madeira envernizada devia conduzir aos quartos. E nesse momento, ao escutar o som de vozes, teve a certeza que Rui se encontrava no piso superior. Em silêncio, subiu os degraus, até que ficou em frente à porta do quarto, entreaberta. Devagar, aproximou-se e conseguiu ver o interior do quarto. Deitado na cama, Marta reconheceu o corpo musculado do marido, debaixo do qual se vislumbravam duas pernas femininas, envolvidas em meias de renda.
Rui devorava com a boca os seios gulosos daquela mulher desconhecida, trincando com os dentes os mamilos rosados, enquanto a mão afagava com força as coxas carnudas. A boca de Rui iniciou então a descida até ao sexo, lambendo a pele em redor do umbigo, imobilizando-se na zona da púbis, até que mergulhou sedenta na vagina quente. Os longos dedos da mulher, de unhas pintadas de vermelho, estavam pousados nos cabelos espessos do marido e o seu corpo contorcia-se em espasmos de volúpia. Mas a estranha não estava satisfeita e, com incontrolável furor, deitou-se de lado nos lençóis de cetim e foi assim que Rui a penetrou entre as nádegas, com gestos decididos, até que, saciada a sede, ficaram deitados lado a lado na cama.
Marta assistiu a tudo, primeiro com uma imensa mágoa, até que, para sua surpresa, os sentidos despertaram e uma suave excitação se apoderou do seu corpo, quando um calor húmido cresceu entre as pernas e a respiração se acelerou. Nesse instante, já não era o marido que estava naquela cama, fazendo amor com uma desconhecida. Era um espetáculo provocador e excitante que a fazia desejar ser possuída naquele exato momento.
Quando tudo terminou, ficou sem saber o que fazer. Até que a voz de Rui se elevou no ar – ‘Sabes que hoje é a última vez, no saber?’, perguntou à mulher morena. "Ontem, fiz amor com a minha mulher. Tenho a certeza que não a quero deixar. Esta foi a nossa despedida". O rosto da estranha abriu-se num sorriso irónico. "Nunca te pedi nada, pois não?". Rui começou a vestir-se lentamente, beijou-a uma última vez nos lábios e Marta soube que ele iria abandonar o quarto, pelo que aproveitou se escapulir escadas abaixo, sair pela janela, entrar no carro e conduzir rumo a casa, sempre com o coração a mil à hora.
Conduziu devagar para dar tempo ao marido de chegar antes dela. Rui esperava-a em silêncio na sala. Um único olhar bastou para entender que Marta conhecia a verdade. Isso agora não interessa nada’, disse-lhe Marta de um dos cantos da sala. O desejo insatisfeito continuava presente no seu corpo. Estava húmida e excitava-a saber que ele a ia possuir pouco tempo depois de ter feito outra mulher vir-se. Começou a despir-se à sua frente e apenas lhe ordenou: "Anda, vamos para o quarto".

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