segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Longa espera

Catarina levantou-se da cama e vestiu o roupão. Deitado, Paulo dormia, embrulhado de tal forma no lençol que apenas se adivinhavam os espessos caracóis loiros. O corpo era, Catarina sabia-o bem, mais do que perfeito. Tudo nele soava perfeito. Então, porque é que, mais uma vez, só queria que ele acordasse e saísse do seu apartamento?

Debruçou-se sobre a janela que se deitava sobre o rio e pensou que tinha vinte e cinco anos e uma busca infeliz na sua vida. Desde daquele momento inicial, em que a paixão a levara a entregar-se nos braços de um homem, tinha dezasseis anos, que procurava o prazer que sabia ser intrínseco à natureza do sexo, tentando tocar esse mistério relatado nos livros, vivido no cinema e adivinhado no estranho mundo dos sonhos. Jamais a doce sensação de um gozo total tinha roçado a sua pele, nunca tinha sido envolvida por ardentes ondas de volúpia ou experimentara as chamas do desejo a subir pelo seu corpo, conseguindo fazê-la esquecer-se de si (pelo menos, assim descreviam os livros o prazer do sexo).

Os anos passavam, ia conhecendo pessoas, os afectos e as atrações naturalmente surgiam e, de novo, se via deitada numa cama, rendendo-se a umas mãos que lhe exploravam o corpo, um pénis a mexer-se dentro de si, mas, no final, apenas ficava como memória uma melancólica frustração. Não podia ser só aquilo, uma sensação de leve gozo quando a tocavam e, depois, mais nada. Nada de apoteótico, transcendência, imenso. Por isso, como uma forma de não desagradar ao parceiro, Catarina habituara-se a mentir. "Foi bom?", perguntavam-lhe em voz suave. "Claro que sim", respondia, com um sorriso que ocultava as sombras que dançavam nos seus olhos claros.



Paulo mexeu-se na cama, estendeu para ela os braços musculados e pediu com voz entaramelada de sono "Anda cá". Catarina sentou-se à beira da cama, desejando estar sozinha. "Logo à noite voltamos a ver-nos?", perguntou Paulo, com um tom de insegurança na voz. Catarina hesitou: "Não posso, vou sair com umas amigas, mas depois telefono-te". Ele não ocultou a expressão de tristeza que tocou o coração de Catarina. Ele era tão bom rapaz, mas ela sabia que não se iam ver outra vez. E essa frieza perturbava-a. Não era aquela a mulher que queria ser.

Mais tarde, pelas dez da noite, acompanhada por mais três amigas, entrou meio aborrecida num bar do Bairro Alto. A ideia de ser uma cabra sem coração ainda não a deixara e estava decidida a não se meter tão cedo em mais nenhuma aventura. Por isso mesmo, sentiu-se contrariada quando as amigas lhe chamaram a atenção para o facto de ter chamada a atenção de alguém, cujos olhos não se tinhas desprendido dela desde que entrara. Virou-se na direção que as amigas lhe apontavam e, no outro extremo do balcão, com uma cerveja numa das mãos e um sorriso no rosto de expressão viril e atraente, lá estava ele. Era um olhar descarado, firme, forte, que a perturbou. A sua idade era indefinida e o corpo, esguio, era atraente e sedutor. Catarina tentou ignorá-lo, mas os seus olhos estavam constantemente a regressar ao contacto com os dele, de tal forma perturbada que quando ele se aproximou dela e começou a falar sobre a música que se ouvia, como se já se conhecessem há muito, se deixou ficar a ouvir, sorrindo de vez em quando. Podia ser mais um engate sem história, era provável que fosse, mas algo dentro de si se sentia atraída por aquele homem, como se já o conhecesse há muito, como se, de alguma misteriosa maneira, se tivessem cruzado noutro tempo, noutra época, numa outra vida. Por fim, aceitou o convite para jantar na noite seguinte.

Há hora combinada, Catarina chegou ao restaurante, um lugar requintado, e agradeceu ter-se vestido à altura da ocasião, um vestido preto, de longo decote nas costas, que deixava expostas as suaves linhas da sua figura. Ele aguardava-a, também de negro: era a imagem da sofisticação e da elegância, mas, mais uma vez foi a energia que vinha dele que a entonteceu. "Sinto como se te conhecesse há anos", deu por si a declarar, quando o segundo copo de vinho fazia surtir o seu efeito dado que não estava habituada a beber. "É verdade, só não te recordas disso. Noutras vidas, fomos amantes". Ela sorriu com desconfiança, afinal aquilo ela era resposta estranha, mas a palavra ‘amantes’ fê-la corar, porque os imaginou aos dois, nus, a foderem como se não se houvesse amanhã.

No final da refeição, Pedro (pois era esse o nome) segurou-lhe na mão e disse: "Agora, vens comigo". Ela pensou dizer não e depois uma voz fez-se ouvir: ‘deixa-te ir’, dizia-lhe e ela obedeceu. Pedro conduziu pela marginal até chegar a uma casa, com vista para a baia de Cascais. "É aqui que moro. Gostas? Antes, vivemos junto ao mar e era na areia que fazíamos amor!" Para Catarina, estas palavras começavam a soar cada vez mais sedutoras.

Pedro abriu a porta e ela viu-se numa sala imensa, onde ardia um fogo acolhedor. Ele convidou-a a sentar-se em algumas almofadas, serviu-lhe um pouco de vinho e olhou-a com uma paixão indefinível, antes de puxar para si e lhe beijar os lábios lentamente. O beijo ardeu na pele de Catarina, que parecia prestes a explodir de uma expectativa exacerbada. Sabia que podia ser esta a sua primeira noite como mulher. Pedro começou a beijar-lhe os ombros nus, permitiu que a língua descesse pelas costas e, num só gesto, fez o vestido deslizar, deixando expostos os mamilos endurecidos que tocou devagar, até que um primeiro gemido se soltou da boca de Catarina. "Que saudades tinha do teu corpo", murmurou Pedro, antes de, acabando de a despir, mergulhar a cabeça por entre as suas pernas e, com a língua, penetrar naquele ardente recanto e brincar com o seu clitóris, com um à vontade de quem domina há muito os meandros daquele corpo. Pela primeira vez, Catarina sentiu que, na sua pele, se formavam ligeiras gotas de suor, que um doce calor subia por entre as suas pernas até a envolver completamente. Ë medida que ele a acariciava, a sua vagina humedecia-se em contacto com a pele daquele homem, que a desejava com a intensidade deixada por uma longa ausência. Puxou-o para si e abriu-lhe a camisa que deixou exposto um peito despido de pelos, uns braços vigorosos, que ela tocou com fervor, sentindo que muitas vezes j‡ estivera com aquele homem. Desapertou-lhe as calças e, com a mão, experimentou o membro endurecido que chamava por si. Com a língua, começou a acariciá-lo com movimentos suaves, até que o mergulhou inteiro dentro da boca. Por fim, Pedro deitou-a sobre as almofadas, com os dedos brincou mais um pouco com o seu clitóris, gozando com o facto de a sentir ardente de desejo, empurrando-o suavemente. Quando ela já estava pronta, fê-la abrir as pernas e deitando-se sobre ela penetrou-a devagar e Catarina viveu, pela primeira vez, o prazer de ser possuída. O cheiro, o sabor, a textura da pele de Pedro fundiram-se com o seu corpo, com as suas memórias, com o seu ser, cada vez mais, à medida que os movimentos se tornavam mais intensos, mais urgentes na necessidade de partilhar com ela o gozo. "Esperei por ti ", sussurrou Catarina, antes que um maravilhoso orgasmo a deixasse despida de palavras, mas plena de um prazer total. Ele ficou a repousar a seu lado, acariciando-lhe o cabelo. "Entendes agora?", perguntou. Suspirando, Catarina só conseguiu dizer: "Agora, compreendo tudo".




Sem comentários:

Enviar um comentário