sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sexo virtual



Eram umas duas da manhã quando Eduardo apagou o computador e respirou fundo - estava com uma tesão descomunal. Nunca tinha pensado que as coisas pudessem ir tão longe, que os pensamentos se transformassem em palavras com tamanha rapidez, que a mente conseguisse ultrapassar assim todos os limites do recato e do pudor e que o desejo fosse incontrolável só com o calor das palavras.




A conversa num site de encontros com foxlady81 – site em que se tinha inscrito porque os amigos insistiam que ele tinha de dar umas quecas desde que se separara ou então ficava louco, tinha começado pelas banalidades usuais - como te chamas, que idade tens, como é que és... De início, apenas um pormenor lhe tinha cativado a atenção entre as centenas de seres virtuais que povoavam aquele site: a forma como se apresentava no pequeno texto junto ao seu perfil: “o destino da viagem não é o fim, o fim é a própria viagem.” E que viagem tinha iniciado, de tal forma que só esperava sair do trabalho para se colar ao pc.

"Gostas de sair à noite?", perguntara-lhe na noite anterior. "Nem por isso. Só quando sinto vontade de foder e não tenho companhia", foi a resposta que Eduardo obteve. "O.k., é ela que está a introduzir sexo na conversa", pensou, sentindo o pénis levemente duro, o que significava que, a partir daí, estaria completamente à vontade para avançar com o assunto, sobre o qual, no mundo real, por assim dizer, era um pouco enconado.

"Que bom não ter de fazer sala. Então, dá-te pica fazer amor com desconhecidos?", questionou com um sorriso de gozo. "Se me atrair. O importante é satisfazer o desejo mal ele surge. Choca-te esta frontalidade?", retorquiu foxlady81. "Um pouco", pensou Eduardo, mas controlou a ingenuidade do pensamento – quer dizer, que sabia ele destas coisas, se até ali só tivera uma mulher na sua vida, a namorada da secundária, com quem namorara dez anos antes de ela o trocar pelo professor de body combat - enquanto os dedos teclavam: "Não. Acho que é assim que o sexo deve ser encarado e não com falsos pudores."

Do outro lado, o comentário parecia ter agradado: "Acho que temos muitas coisas em comum. Também gostas de sexo em grupo?"
Agora é que ele estava a ficar em brasa. E a conversa prosseguiu no mesmo estilo, os dois sempre a rondarem a mesma questão, analisando quase friamente os limites da pessoa que se escondia por detrás do ecrã de computador. Eduardo entregou-se o jogo, esqueceu-se da estreiteza das suas experiências sexuais e assumiu um à-vontade total, como se sair de casa, fazer amor com uma desconhecida dentro do carro ou na casa de banho da discoteca fosse o mais banal dos acontecimentos na sua vida.

Quando desligou e fechou os olhos, adormeceu de imediato. Mas a sua mente preparava-lhe uma partida e o jovem sonhou que estava no quarto, sem conseguir adormecer. De súbito, do lado de fora da varanda, vislumbrou um corpo de mulher. Nesse instante, a janela abriu-se, a figura desconhecida colocou-se junto à cama e Eduardo reparou de imediato na saia em padrão tigrado, nas meias de reda que cobriam umas longas e bem torneadas pernas, no soutien preto transparente e na mascarilha que lhe escondia o rosto. Sem pronunciar uma só palavra, a estranha deitou-se sobre ele e começou a desapertar-lhe a camisa e a beijar-lhe o peito com ardor, fincando as unhas com tanta força nas suas costas que ficaram marcas vermelhas sobre a pele. Depois, despiu-lhe as calças e procurou com a boca húmida, numa ansiedade incontrolada, o membro já ereto que acariciou com a língua. Eduardo não tardou a experimentar uma excitação crescente e a aproximação apoteótica do orgasmo.

E foi então que acordou. Em seu redor, apenas o silêncio da noite. Pela janela, nenhum vulto se vislumbrava. "Ela está mesmo a tomar conta da minha mente", exclamou, virando-se para o outro lado e tentando reconciliar o sono.

O dia de trabalho passou muito devagar. Onde quer que estivesse, apenas aguardava o instante em que iria regressar ao site e novamente falar com aquela mulher. E à mesma hora, procurou por ela e a resposta não se fez esperar. "Por onde andaste?", perguntou Felina e Eduardo sentiu-se feliz. A estranha continuou: "Depois de ter desligado, apareceu um amigo meu cá em casa e foi uma noite de loucura total". Uma pontada de ciúme atacou-o. Mas o que deveria responder? Não havia qualquer relação entre eles, portanto, cenas de ciúme eram despropositados. "Também me encontrei hoje com uma ex-namorada e acabámos por foder à séria. Praticamente não dormi", retorquiu em tom de vingança.

A raiva fez Eduardo colocar a questão que nunca o abandonara desde a noite passada. "Vamo-nos encontrar?" Do outro lado, o silêncio, ou melhor, a ausência de caracteres. Por fim, uma resposta afirmativa: "Amanhã, às dez, junto ao bar X. Vou vestida de branco". E desligou.

Outra vez, aquela mulher lhe ensombrou o seu sono, também de rosto escondido por uma máscara preta. Mas, agora, trazia sobre as ondulantes formas do corpo um longo vestido branco, de alças finas, que deixava a descoberto a sensualidade das costas e do pescoço. Sobre a roupa quase transparente, adivinhavam-se uns mamilos saborosos e umas nádegas tentadores. Eduardo não voltou a ficar refém da surpresa, antes decidiu tomar conta dos acontecimentos do seu sonho. Quando a vislumbrou, imóvel junto à cama, agarrou-a com força entre os braços, beijou-lhe os lábios carnudos, explorou com a língua cada recanto daquela boca. Deitou-a em cima de cama, com os dentes puxou para baixo as alças do vestido e com os dedos segurou os seios imensos que não cabiam na palma da sua mão, trincando delicadamente os mamilos enquanto o corpo da desconhecida era visitada por tremores de prazer e lhe pedia ‘fode-me’ ao ouvido. A língua desceu lenta mas decididamente pelo recorte da barriga até atingir a leve pelugem. Brincando em redor do clitóris, foi com excitação crescente que os dedos de Eduardo sentiram que ela estava pronta para o receber dentro de si. Deitou-se sobre a desconhecida e o pénis duro e firme foi acolhido com volúpia e entre as suas pernas que se fecharam em redor da cintura do jovem. Sentindo um calafrio do mais puro desejo percorrer-lhe todo o corpo, Eduardo começou a mover-se dentro dela, ao mesmo tempo que os lábios devoravam o pescoço nu, os seios perfeitos, os lábios molhados. E teve, por fim, o orgasmo que lhe tinha sido prometido na noite anterior! Nesse exato momento, acordou em pânico! Teria coragem para se encontrar com ela?

A dúvida brincou com os seus pensamentos todo o dia. À noite, já estava decidido apesar de convencido que ela iria ficar completamente desiludida quando pousasse o olhar na sua figura tímida, se bem que atraente, e se apercebesse que tudo aquilo que ele lhe dissera era a mais pura das mentiras. "Perdido por cem, perdido por mil. Pelo menos, vou ver se ela é parecida com a mulher do meu sonho", concluiu com um encolher de ombros.

E à hora combinada, Eduardo entrou no bar e procurou entre as poucas mesas ocupadas a mulher de branco. Não vendo ninguém que se assemelha-se a tal descrição, sentou-se a um canto, onde podia observar quem entrasse. Olhou à volta - numa mesa, quatro amigos conversavam em voz alta, noutra, um casal trocava beijos apaixonados. Por fim, escondida, uma jovem, que não devia ter mais de vinte e cinco anos, bebia uma imperial com uma expressão intranquila. "
É bonita, mas não está de branco. Além do mais, tem um especto demasiado tranquilo para ser uma fera sexual", pensou. Até que se apercebeu que a rapariga se levantava e vinha até si.

"Eduardo?", perguntou a medo. Ao sinal afirmativo, passou a explicar. "O meu nome é Patrícia. Desculpa ter-te enganado e não estar vestida de branco, mas queria ter oportunidade para te ver primeiro. Pareces bem mais sossegado do que no site” comentou com um sorriso nervoso.

Eduardo sentiu-se mais tranquilo: "Bem, sabes que aquilo que é dito no chat por vezes não corresponde bem à imagem que nós temos. Posso ter exagerado um bocadinho".

Patrícia pareceu descontrair de imediato: "Ainda bem que dizes isso, porque o mesmo se passou comigo..." Respirando de alívio, Eduardo convidou-a a sentar-se. Afinal, poderia haver surpresas boas no meio daquela história toda...   

1 comentário: