sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sedução ao limite


É complicado descrever o que me atraiu nela ao primeiro olhar, no exato segundo em que a terra imobilizou o seu curso e o meu coração parou de bater, paralisado por uma força maior que a gravidade. Não foi o corpo magro que envergava com descontração os últimos trapos da moda, ditados por uma qualquer revista de nome francês. Nem os olhos de Sara, castanhos, de uma tonalidade tão escura que quase nada se refletia neles, assemelhando-se a dois lagos das profundezas da terra. Os cabelos eram curtos e as feições como as de uma boneca de porcelana, frágil, enigmática e distante. Como um anjo...



Começámos a namorar no primeiro ano da faculdade. Ao final de uma semana de a ter conhecido, beijei em estado de êxtase uns lábios pequenos e perfeitos como botões de rosa e descobri-me completamente apaixonado. Depois de alguns passeios, pousei com medo a mão sobre o bem desenhado seio, que coube inteiro na palma da minha m‹o, e senti que o meu corpo vibrava inebriado pela suavidade perfeita que adivinhava por debaixo daquelas roupas. Entre livros, tardes na esplanada e entardeceres junto ao Mondego, fui-lhe falando de sonhos e projetos e de como me sentia unido a ela por laços que ultrapassavam o tempo e a distancia. Sara abria os olhos enormes e dizia que nós éramos como as gaivotas, que nunca voam sozinhas. Entre beijos ardentes, levei-a ao colo para o meu quarto e durante dois dias esquecemo-nos do mundo. Com paixão, amámo-nos de todas as maneiras, festejando com carícias ardentes a virgindade que ambos entregávamos ao corpo um do outro. E não passou muito tempo sem eu fazer as malas e estar com ela a partilhar o apartamento com mais dois colegas.

E assim passou um ano, em que a voz de Sara era a primeira que ouvia
todas as manhãs e o seu rosto o último que beijava antes de adormecer. Até que Elsa irrompeu nas nossas vidas por uma daquelas infelizes jogadas do destino: um dos amigos com quem partilhávamos a casa, terminou o curso e rumou a Lisboa. Restava-nos um quarto vago e uma renda elevada para pagar. Sara lembrou-se de uma colega nova que era de longe e estava a procura de casa. No dia seguinte, quando cheguei, Elsa e Sara estavam a conversar tranquilamente. Quando a recém chegada levantou os olhos para mim, senti um arrepio de mau presságio. Era terrivelmente atraente.

Sara apresentou-me com um sorriso tranquilo - "é o Guilherme, o meu namorado". Mas depois das apresentações, abandonei a sala, sentindo-me perturbado. Todo o seu corpo enviava uma mensagem com quatro letras: sexo. Elsa mudou lá para casa, com a sua longa cabeleira loira, um metro e oitenta de poses estudadas, de quem sabe o efeito que provoca ao entrar numa divisão repleta de homens. Mas era a mim que ela queria.

Ao final do segundo dia, levantei-me de noite e fui à cozinha para beber um copo de água. No silêncio da casa, os passos de Elsa foram tão imperfectíveis que, quando me apercebi, ela já estava junto a mim, vestindo uma t-shirt curta, que permitia divisar o recorte perfeito dos mamilos. Debruçada sobre o meu rosto, retirou-me o copo das mãos e encostou os lábios cheios ao vidro, sem que aqueles olhos cintilantes se retirassem um minuto dos meus. "Não conseguias dormir? Nem eu, deve ser do calor".

Este tipo de abordagens repetiram-se constantemente. Um dia, Sara já tinha saído e eu estava a tomar banho quando Elsa entrou na casa de banho, despiu o soutien e sem pudor, lavou o rosto e o pescoço, sabendo que, por detrás da fina cortina, me era possível divisar aqueles portentosos seios, orgulhosamente empinados. Incapaz de controlar o desejo, o meu membro ergueu-se e eu não resisti a masturbar-me quando ela abandonou o local, sentindo vergonha de ser tão fraco. Noutra ocasião, em que estávamos novamente sozinhos, Elsa decidiu deambular pela casa sem nada mais sobre o corpo do que um soutien transparente e um delicado string, com o único objetivo de conduzir-me à loucura. Sentindo-me culpado, uma parte mais obscena de mim recusava-se a contar o sucedido a Sara que, entre os exames de final do curso, acreditava que a Elsa era "uma querida, não achas Guilherme?"
Sara saiu um fim-de-semana para ver os pais, assim como o outro rapaz com quem partilhávamos a casa. Estava consciente do perigo que se adivinhava. O mais certo seria ter ido com Sara ou arranjar qualquer forma de não permanecer sozinho com Elsa entre aquelas quatro paredes. Fiquei, sabendo o que me esperava.

Nessa mesma noite, cheguei já tarde, na esperança surda de adiar aquilo que o meu corpo desejava. Devagar e sem acender nenhuma luz, sentei-me no sofá, até que acabei por adormecer. Cedo senti uma boca a colada ao meu pescoço, uns dedos ágeis a despirem-me a camisola e as nádegas de Elsa no meu colo. Abri os olhos e ela estava completamente nua. E húmida de desejo, de tal modo que o meu pénis subitamente ereto viu-se sem saber como dentro dela. Os nossos corpos começaram-se a mover com a velocidade de animais selvagem, sedentos por satisfazer um instinto vital. Em pouco tempo, alcançámos o orgasmo e gritei naquele momento, um grito louco de uma raiva guardado dentro de mim durante todos estes dias, perante aquele monstro de volúpia que, satisfeita, saia do meu colo quase lambendo os lábios do prazer de ter saboreado o fruto proibido. "Nunca estiveste com ninguém para além da Sara, pois não", perguntou. "Não", respondi, sentindo-me sem forças sequer para falar, como se todo o meu ser tivesse sido sugado por aquele ventre de gata.

Tomei um duche de água fria, tentando abrandar o sangue que me corria mais rápido nas veias, na expectativa do final da noite. Quando saiu, Elsa estava deitada na cama, novamente nua, um corpo longo, de cintura fina e formas carnudas, toda a sua pele irradiando a energia de infindáveis prazeres. Dirigi-me até ela, com o pénis já completamente ereto. Elsa pegou nele, colocou-o dentro da boca e lambeu-o, gemendo com delicioso prazer. E só quando pressentiu que se aproximava o clímax se afastou, deitou-se de costas para mim, exibindo o recorte perfeito das nádegas e disse "penetra-me". Com tesão, entrei dentro dela e, com movimentos rápidos, sentindo o suor a libertar-se dos novos corpos e a voz dela a exigir "mais depressa", levei-a até um orgasmo profundo e terminei deitado na cama, caindo num turbulento sono. Os dois dias seguintes não tiveram muito mais história. Na banheira, no chão frio da cozinha, éramos dois animais à solta, sem rédeas e, de alguma estranha forma, sem alma. Quando adormecia, a imagem de Sara, daquele rosto de anjo, surgia-me em sonhos.

Domingo à noite deixei-me ficar ao lado de Elsa, na cama, sabendo que Sara devia estar a chegar. Quis que ela me visse assim, porque não tinha a coragem de lhe contar a verdade nem a força para mentir. Sara chegou e encontrou-nos juntos. Pediu-nos para deixar a casa. Não proferiu uma única palavra. Mas os seus olhos eram dois lagos opacos de tristeza e a minha alma morreu ao ver-se refletida neles.

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