sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Paixão insuspeita


- Estou farta disto. Consegues dizer-me o que se passa de errado com os homens?

Marta suspirou. Quem lhe dera ter a resposta para as questões da amiga. Mas desconhecia tanto como ela o que lhe ia naquelas cabeças.

Rute decidiu desabafar e contar a Sara a última desilusão com o namorado: 

- Sabes o que ele teve a coragem de me fazer? Disse que ia jantar a minha casa. Eu preparei tudo, escolhi o vinho, pôs a mesa. Nove, oito, dez da noite e ele nada. Tentei ligar-lhe e o telemóvel estava desligado. Até que, por fim, perto das onze, consegui falar com ele. Sabes o que me respondeu: tinha-se esquecido e acabado por ir ao ginásio. Achas normal? Isto depois de não me ter visto a semana toda!

Um sorriso triste surgiu no rosto de Marta… Era tão comum escutar essas histórias, que até tinha medo de pensar se Frederico poderia ser real. Seria realmente de carne e osso? Poderia existir alguém tão dedicado e correcto? A verdade é que não o conhecia assim há tanto tempo como isso, motivo para que o lado mais céptico da sua mente a obrigasse a desconfiar. “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”, já lhe dizia a sua mãe.

Rute, porém, estava completamente descrente:

- Por isso, amiga, tem cuidado com esse homem que te está a colocar a cabeça às voltas. Olha que dos homens nunca se pode esperar coisa boa.

Marta suspirou. Devia contar à amiga que aquela seria a primeira vez que ele ia ao seu apartamento. Será que lhe podia acontecer o mesmo do que a Rute? Tentou afastar da sua cabeça esse pensamento. Agradava-lhe acreditar que iam acabar os dois na cama, a rebolarem nos lençóis. Como é que ele seria na cama?

Adivinhando que a amiga se preparava para lhe fazer um demorado discurso sobre os perigos do sexo oposto, preferiu remeter-se ao silêncio, dar o assunto por encerrado e ir até casa, onde tinha de preparar o jantar.

Enquanto rodopiava pela cozinha, recordou-se do que pensara quando conhecera Frederico na festa da empresa. Ele dirigira-se até ela com um cocktail na mão, que educadamente lhe oferecera, mostrando-se chocado com o facto de ela estar sozinha. Era tão atraente dentro do seu fato Armani que, habituada como estava a desilusões, logo lhe ocorreu ao cérebro a seguinte frase: “só pode ser casado!” Nas mãos, não havia sinal de aliança e, após uma hora de conversa e de flirt, não surgiu nenhuma alusão a namorada ou mulher, apesar de Marta ter abordado a questão com subtileza. Mais tranquila, deixou-se conduzir pela sua vontade (ele era mesmo bonito) e deu-lhe o número de telefone. Duas saídas e agora Frederico estava a poucos minutos de bater à sua porta. E ainda tinha de se arranjar!

Correndo para o quarto, escolheu o vestido mais sexy que tinha no armário. Se era para impressionar, era para fazê-lo à grande, que estava à demasiado tempo sozinha para se atrever a ser pudica.

Mal acabara de se arranjar, o som da campainha ecoou no pequeno apartamento. “Que pontual”, pensou com satisfação e aproximando-se da porta um pouco trémula. Abrindo-a, deparou-se com um Frederico sorridente e elegantemente vestido à sua frente, com um ramo de rosas na mão e uma garrafa de vinho tinto na outra. Parecia mesmo uma cena de filme, daquelas com que, apesar de pirosas, sonhamos a vida toda… Frederico chegou ao ponto de arregaçar as mangas na cozinha e ajudá-la a terminar o jantar, tudo sem perder um certo ar de galã de cinema que lhe ficava a matar.

Enquanto ponha a mesa, Marta ia olhando por detrás do ombro para Frederico, encostado à bancada a cozinha a preparar um molho que dizia ser especialíssimo. Os ombros largos, as nádegas firmes, tudo a fazia suspirar e desejar que o jantar rapidamente chegasse ao fim para saltarem para assuntos mais importantes.

O jantar demorou. Mas isso não foi de modo algum sinal de que ele fosse uma companhia aborrecido. Antes se mostrou, como das outras vezes, espirituoso e divertido. Beijaram-se quando o café estava servido, ainda sentados à mesa. Um beijo de primeiro amor, tímido e desastrado, mas com um encanto inesperado para Marta. Tudo mudou quando se sentaram lado a lado no sofá. Aí as bocas colaram-se com paixão e as mãos de Frederico começaram a demonstrar toda a maturidade de um homem de trinta anos. E que maturidade! Elas eram suaves, ágeis, indiscretas, carinhosas, Capazes de despertar mil sensações fabulosas em qualquer pedaço de pele que tocasse. Marta sentia-se arrastada para um sonho de prazeres desconhecidos.

As mãos de Frederico continuaram o trabalho, coadjuvadas pelos lábios macios e voluptuosos que lhe beijavam os seios e os mamilos. Ele ia a despindo lentamente até que a pele branca de Marta ficou exposta aos seus olhos. Dos seios, a boca deambulou pela barriga, pela cintura e desceu lentamente até a púbis, encontrado o caminho entre as suas pernas. Acariciou-a de demoradamente até Marta não conseguir conter um orgasmo intenso, poderoso.

Foram então para o quarto, onde Frederico tirou as roupas e ela acariciou com os lábios o pénis erecto que, por fim, entrou dentro dela, com um vigor que a fez delirar. E a noite de amor continuo quase até de madrugado.

Ao acordar, Frederico não estava lá. Ao lado da cama, um bilhete de amor a dizer que aquela fora a melhor noite da sua vida.

Nesse final de tarde, Marta encontrou-se com Rute. Estava nas nuvens e decidida a contar-lhe o que se passara. Mas a amiga, entusiasmada, nem a deixou falar. Falara com o namorado há cinco minutos e ele iria levá-la a jantar a um restaurante de luxo para redimi-la do facto de não ter estado com ela aquela semana. Pelo meio, ocorreu-lhe uma ideia:

- Nunca viste uma fotografia dele, pois não? – disse, ao mesmo tempo que estendeu o telemóvel à amiga.

Quando marta olhou para o visor, todo o seu corpo estremeceu. Porque ali, na fotografia, sorridente, estava, nada mais nado menos, do que Frederico. Aquele que a levara às nuvens a noite passada e, passadas poucas horas, a fazia descer ao Inferno.

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