quarta-feira, 1 de maio de 2013

Partida do desejo




Na sala de espera, junto à porta de embarque do aeroporto, olharam-se com aquele ar de ‘conheço-te de algum lado’, mas nenhum deles foi capaz de meter conversa. Primeiro olhava ele, depois, quando ‘apanhado’ por ela, fingia estar distraído e baixava os olhos para a revista que segurava nas mãos. De seguida, era ela que aproveitava a oportunidade para lhe lançar olhadelas até ele a fixar de novo e assim sucessivamente, num jogo de toca e foge.
Sara reconheceu de imediato que o jovem era atraente. A quem se estava a enganar? Na verdade, era muito atraente mesmo.
‘Se já o vi em algum lado, como é que me fui esquecer?’, perguntou-se, enquanto admirava, pelo canto do olho, a pele morena, os olhos castanhos intensos e o peito musculado que se decifrava por debaixo da t-shirt.
Quando começou o embarque, Sara perdeu o rumo do jovem naquela confusão de gente. Entrou no avião e, só quando estava quase a chegar e quase a sentar-se, descobriu que o atraente estranho estava instalado no lugar junto ao seu, à janela. Ele já reparar nela há algum tempo, vendo-a dirigir-se para ali no corredor estreito do avião, e sorria na sua direção com um desconcertante à-vontade.
Com o coração a bater mais depressa, Sara acomodou-se a seu lado e correspondeu ao sorriso.
Ele era mesmo giro, mas de onde é que o conhecia?
- “Não te lembras mesmo de mim, pois não, Sara?”
Aí é que ela ficou mesmo sobressaltada. Ele sabia o seu nome! Contemplou-o com interesse, a tentar chegar, no meio dos pensamentos nebulosos, a um local e a uma data em que o tivesse conhecido. Nada! As covinhas no rosto quando sorria eram-lhe de facto familiares. E os olhos amendoados, de um castanho húmido, meio tímidos. Mas de onde?
Ele parecia divertido com o seu espanto, mas compadeceu-se dela e ajudou-a a solucionar o mistério:
- “Fomos da mesma turma no nono ano, estás lembrada? Sou o Ricardo…”
Cinco segundos bastaram para que Sara regredisse no tempo. Que viagem alucinante ao passado!  Lembrou-se dos colegas da turma e, claro, de Ricardo, sentado sempre na mesa atrás da sua, a olhá-la com fervor pelas costas, sempre disponível para a deixar copiar nos testes ou para lhe emprestar os trabalhos de casa.
Mas não podiam ser a mesma pessoa! Era impossível. Com algum peso na consciência ela recordava-se de um rapaz de enormes óculos a tapar-lhe a cara, borbulhas no rosto e um corpo forte e desastrado, que parecia venerá-la e que ela, em plena adolescência, tinha desprezado e, por vezes, até tratado mal, gozando daquela veneração. Em nada esse colega acanhado tinha a ver com aquele homem atraente, de corpo atlético, sentado a seu lado… Mas sim, era verdade, pois agora, que sabia de onde o reconhecia, identificava o mesmo sorriso doce com que ele tantas vezes a presenteara no passado.
- “Bem, como mudaste”, comentou, atrapalhada.
Sentiu que corava quando ele disse: ‘tu não…’.



Uma simples observação, mas que continha o reconhecimento de que a sua beleza, dez anos depois, continuava a mesma e que, quem sabe, ainda detinha o poder de o encantar. Pelo menos, assim parecia pela forma atenta como ele a olhava, para o seu rosto bonito e para os lábios em forma de rosa, para os olhos verdes com pestanas escuras, que tornavam ainda mais densa a tonalidade esmeralda que deles irradiava. Sara sempre fora bonita, desde que nascera, e por toda a adolescência. Já de Ricardo, lembrava-se dos olhos enormes e doces, mas era para o gordinho e para o desastrado e fazia parte do grupo dos ‘cromos’.
Sabia, com um peso de culpa na consciência, que era normal tê-lo esquecido, pois naquela época só os colegas de porte atlético a atraiam. Bem, a dizer a verdade, continuavam a atraí-la, daí o facto de ter sido uma surpresa tão agradável a transformação de Ricardo.
A viagem de seis horas cessou mais depressa do que qualquer uma que Sara já tivesse feito porque agora, que Ricardo já não era um patinho feio, descobria que o antigo e desajeitado colega era, na realidade, um homem encantador… e muito sexy. E estava mais do que disposta a colocar a conversa em dia, pelo que repartiram uma súmula dos acontecimentos dos últimos anos.
 Ela regressava de uma viagem de trabalho – trabalhava como jornalista numa revista de moda -, ele dedicara-se ao surf e competia nos melhores campeonatos do mundo, ao mesmo tempo que era professor da modalidade. Falaram de amigos comuns, dos professores, do que tinham feito naqueles anos. Todavia, à medida que a conversa decorria, aparentemente banal, havia minúsculos gestos, como a mão dele que quase sem querer roçava a sua quando estendia o tabuleiro da refeição à hospedeira, ou os braços que se tocavam no espaço apertado, uma linguagem muda, que faziam o coração de Sara bater mais rapidamente. Gostava da ideia de que podiam estar juntos noutras circunstâncias e começou a tecer alguns cenários na sua cabeça.
Mas foi Ricardo que abordou o assunto de frente:
- “Era completamente louco por ti, recordas-te?”, perguntou-lhe quando o avião já se aproximava da pista.
- “E eu era uma parva. Como é que foi capaz de te ignorar daquela maneira!”
Sentia mesmo o que disse. Arruinara provavelmente todas as possibilidades de algum saber como era de facto o sabor daquela boca. Como se pode ser ingénuo aos 15 anos e não se pensar no futuro.
O jovem riu-se.
- “Acredita que compreendo porque o fizeste. Eu era um pouco… ‘atado’. E precisava mesmo de perder uns quilos. Fez-me bem mudar de escola, descobrir o surf, viajar… Mas fico feliz por voltar a ver-te.”
E nisto segurou-lhe a mão por segundos e depois deixou o dedo a subir e a descer devagar pelo seu braço. A pele de Sara arrepiou-se: a sua pele gostava da dele, muito mesmo, mas ao mesmo tempo o enlevo provocado por aquele toque deixou-a sem capacidade de reagir.
O avião aterrou e nunca Sara se sentiu tão triste por uma viagem chegar ao fim. Já cá fora, mas caminhando juntos, foram buscar as malas. O coração de Sara bateu mais depressa quando chegaram à zona exterior do aeroporto. Iria perguntar se podia vê-la outra vez?
Ricardo fez muito mais do que isso quando estavam os dois na fila para os táxis. Beijou-a. E que beijo! Molhado, quente, envolvente. Depois Ricardo afastou-se e deu um suspiro e ela soube que estava atrapalhado por ter cedido àquele impulso, mas sua a voz soou segura quando lhe disse:
- “Esperei dez anos para voltar a ver-te… Desculpa se tenho alguma pressa.”
Sara calou-o, beijando-o outra vez e, desta vez, todo o seu corpo se encostou ao dele. Sentiu-lhe os músculos fortes contra si e, entre as suas pernas, humedeceu.
Do aeroporto apanharam um táxi diretamente para casa dele. Indiferentes ao taxista, beijaram-se todo o caminho e as mãos mal reprimiam o desejo de se acariciaram com desejo.
Estavam por fim em casa dele. Pegaram nas malas e, com a pressa de estarem a sós, Ricardo quase deixou as chaves caírem no chão. Entraram no átrio, depois subiram dois lances de escada quase a correr apesar das malas e eis que a porta do apartamento se abriu e estavam livres.
Ricardo não deu a Sara tempo para dizer uma só palavra. Encostou-a com tesão contra a parede, errou com as mãos pela cintura, os seus seios, sentindo-os ainda sob as roupas, depois deixou-as deslizar pelas suas costas, descendo até às nádegas, apertando cada uma com uma mão e eis que Sara ficou completamente molhada. Só queria que ele a tomasse ali, contra a parede, naquele instante, com a certeza que toda ela se abriria para o receber.
A sua pele principiou a arrepiar-se, ficando quase em chama. Ricardo tinha-a virado de costas contra si e ela sentiu os lábios dele a queimarem-lhe o pescoço, enquanto as mãos entravam dentro da sua blusa sem pedir licença. O seu corpo incendiava-se mais e mais. A respiração era apressada, dos seus lábios soltavam-se suspiros. Sentiu aquele pénis duro, ereto, encostado ao rabo, e queria ser por ele penetrada, dominada, possuída à exaustão.
Sem parar de a beijar, Ricardo dirigiu-a para o sofá. Tirou-lhe a blusa. Puxou-lhe as calças para baixo com gestos firmes, que a excitaram mais ainda. Ele dominava-a por completo. Depois, ele fez o mesmo com a sua roupa e, por fim, estavam nus, frente a frente.
 Adiaram o desejo de se tocarem pelo prazer de se olharem. Sara mostrava os seus seios perfeitos, duros e de mamilos empinados, a cintura fina, o ventre liso, a púbis cor-de-rosa e Ricardo o peito másculo, os braços definidos e o pénis orgulhosamente ereto.
Sara deitou-se no sofá e abriu as pernas. Completamente, como quem diz estou às tuas ordens, sou tua para fazeres comigo o que quiseres, como quiseres.
 Ricardo aceitou o convite da vagina pulsante e entrou dentro dela, penetrando-a depressa, sem hesitar, os lábios abrindo-se, molhados. Sara sentiu que ele a preenchia e foi dominada pelos primeiros acordes de um orgasmo quando ele a cavalgou com ímpeto, dizendo-lhe, ordenando-lhe ‘vêm-te’ ao ouvido, e ela obedeceu, mansa e dócil, e um orgasmo percorreu-a, selvagem e bravio.
Ricardo saiu de dentro dela e, colocando-lhe as mãos na cintura, virou-a de costas num único e robusto movimento e sem esperar penetrou-a de novo. Desta vez, ainda com mais força, cada vez mais força até que se veio com um grito.
‘Quem diria que aquele rapaz desengonçado se ia tornar num amante fantástico’, pensou Sara antes de se debruçar e sentir na boca o pénis ainda com sémen. Não lhe ia dar descanso. Porque agora queria mais, queria muito mais.


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